quinta-feira, 6 de maio de 2010

JOHN TRAYNOR - história de uma cura



Nascido em Liverpool, Inglaterra, John Traynor foi ferido na cabeça durante a Primeira Guerra Mundial, por um estilhaço de granada. Ficou cinco semanas desacordado. Recuperado, meses depois voltou ao front. Na batalha de Dardanelles foi atingido por uma rajada de metralhadora enquanto participava de um ataque a baioneta. Recebeu um ferimento na cabeça outra vez e uma bala alojou-se em sua clavícula.
Resultado final: braço direito paralisado, músculos atrofiados, perna parcialmente paralisada e convulsões.
Muito embora tenha sido operado diversas vezes, continuou com seus problemas e foi aposentado com a totalidade de seu soldo militar, como permanentemente deficiente e dependente de ajuda para sair e para voltar ao leito.
Cinco anos após o término dos conflitos, ainda muito doente e debilitado, Traynor ouviu falar que a diocese de Liverpool estava organizando uma peregrinação a Lourdes. Resolveu participar, esperançoso. Durante a viagem de trem quase foi deixado em algum hospital, devido ao seu estado de saúde. Já em Lourdes, ficou localizado no Asilo local, onde conseguiu a ajuda de duas jovens protestantes de Liverpool, que prestavam assistência como voluntárias. Estava tão mal que uma senhora não só prontificou-se a escrever à sua esposa, informando que ele seria enterrado em Lourdes mesmo, como chegou a fazê-lo.
Durante sua estadia em Lourdes, por ocasião dessa peregrinação, banhou-se nove vezes nas águas trazidas da gruta de Massabielle para o Asilo em garrafas ou baldes, e era levado a todas as cerimônias nas quais os doentes eram agrupados. Face à sua debilitação geral, seus padioleiros estavam ficando relutantes em levá-lo, porque achavam que ele acabaria morrendo.
Na tarde de 25 de julho, quando estava mergulhado no banho, sentiu sua perna bastante agitada. Tentou ficar em pé, mas os padioleiros impediram. Vestiram-no rapidamente e levaram-no para a Praça do Rosário, para a bênção dos enfermos. Ele mesmo escreveu a respeito desses momentos:
“A procissão veio vindo tortuosa de volta para a igreja, como era costumeiro. No final dela estava o Arcebispo de Rheims, todo paramentado, levando o Santo Sacramento. Ele abençoou os dois à minha frente, chegou até mim, fez o sinal da cruz com o ostensório e continuou para outros. Ele mal havia passado quando notei uma grande mudança em mim. Meu braço direito, que estava morto desde 1915, ficou agitado violentamente. Tirei suas ataduras e me benzi pela primeira vez em anos. Não senti nenhuma dor súbita nem tive visão alguma. Simplesmente percebi que algo importante havia acontecido comigo. Tentei levantar-me de minha maca, mas meus padioleiros estavam me observando. Eles me seguraram e um médico e uma enfermeira deram-me um sedativo. Logo após a benção final, levaram-me de volta para o Asilo. Eu lhes disse que poderia andar e provei, dando sete passos. Fiquei muito cansado e com dores.”
Traynor continua:
“Haviam me colocado numa ala pequena no nível do chão. Como eu era considerado o caso de um notório criador de situações, colocaram padioleiros em turnos contínuos, a fim de impedir que eu fizesse qualquer loucura. O efeito dos calmantes foi passando durante a noite, mas eu não tinha um entendimento pleno de que estava curado durante a noite. O carrilhão da Basílica marcava as horas e meias horas, como de costume, durante a noite, tocando a Ave Maria de Lourdes. Logo cedo eu os ouvi tocando e me pareceu que eu havia adormecido no início do Ave. Pode ter sido uma questão de segundos, mas no último toque abri meus olhos e saltei da cama.......... Corri para a porta, empurrei para os lados os dois padioleiros e corri para o ar livre. ........Posso dizer que eu não havia caminhado desde 1915 e meu peso girava em torno de 52 quilos.”
“Já do lado de fora, corri para a Gruta, que ficava a uns 200 ou 300 metros do Asilo. O trecho era pedregulhado, então, e não asfaltado, e eu estava descalço. Os padioleiros corriam atrás de mim, mas não conseguiam me alcançar. Quando cheguei na gruta, fiquei de joelhos, ainda de pijamas, rezando para Nossa Senhora e agradecendo.”
Uma multidão juntou-se ao seu redor enquanto orava na gruta. Depois de mais ou menos 20 minutos de agradecimentos e orações, levantou-se e ficou surpreso com a multidão que havia atraído. Essa surpresa continuou em sua volta ao Asilo e em sua viagem de volta a Liverpool. Ele não se dava conta do que realmente havia acontecido. Só podia dizer que se sentia bem – muito bem... apesar de ter estado diversas vezes à porta da morte.
Durante a viagem de volta, o Arcebispo de Liverpool, que coordenava toda a peregrinação, foi visitá-lo em sua cabine de primeira classe (que ele nunca entendeu como fora possível nela estar alojado, pobre que era).
Pediu a bênção do Arcebispo, beijando seu anel, mas o prelado disse: “John, eu acho que eu é que deveria ser abençoado por você”.
John admirou-se da afirmação do prelado, sem entender bem seu real significado.
Ambos sentaram-se lado a lado. O Arcebispo, olhando-o bem nos olhos perguntou: “Você lembra como você estava doente? Você percebe que foi curado milagrosamente pela Virgem Santa?”
Num instante ele rememorou seus anos de sofrimentos, sua viagem quase fatídica para Lourdes e, ainda olhando os olhos do Arcebispo, começou a chorar, o que muito comoveu o sacerdote, que também começou a chorar. E lá ficaram os dois chorando como duas crianças, percebendo às claras o que havia acontecido.
Quando da chegada do trem a Liverpool, a imprensa já havia noticiado tudo a respeito de sua cura milagrosa. Sua esposa dirigiu-se ao guarda da estação, que já estava lotada, para poder entrar e informou quem era. “... Bom, disse o guarda, o que eu posso dizer é que esse Traynor deve ser um maometano, porque há umas setenta ou oitenta senhoras Traynor na plataforma”...
Depois de todo o estardalhaço de sua chegada de trem e passados os primeiros meses de fortalecimento físico e de ajustamento à nova situação, Traynor entrou para o negócio de carreto do carvão, não tendo problema algum para levantar sacos de até 100 quilos de material.
E em agradecimento a Nossa Senhora de Lourdes, deixou de fumar e manteve uma ida a Lourdes todo ano, atuando como padioleiro.

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