quarta-feira, 15 de setembro de 2010

CARLOS McDONALD - um médico americano examina uma cura de Lourdes




Quando se dá uma cura, o médico da peregrinação, ou às vezes um padioleiro, leva o paciente o mais cedo possível à Corporação. Um exame preliminar é feito e no dia seguinte um mais completo quando foi possível reunir todos os médicos.
Até mesmo os mais insensíveis e céticos sentem um pouco da emoção e excitação que é geral na sala quando um paciente curado entra, seguido por uma sorridente enfermeira ou parente, e um grupo de médicos e professores de vários países, todos qui vive para verem pessoalmente este extraordinário fenômeno: uma cura milagrosa de Lourdes!
Frequentemente o Presidente convida um médico visitante para presidir o exame.
Um médico americano, Dr. Smiley Blanton, dirigiu o exame de uma das mais famosas curas - Carlos McDonald. Trinta e dois médicos reuniram-se na sede da Corporação para estudar este caso notável. Mais tarde, o Dr. Blanton leu uma exposição da cura numa reuinião das Associações Psicanalítica e Psoquiátrica Americanas. Aqui está o resumo do caso, tirado do relato e da própria história do Sr. McDonald.
Carlos McDonald nasceu em Dublim em 12 de agosto de 1905. Teve boa saúde na infância. Seus irmãos e irmãs também eram fortes. Aos dezesseis anos deixou a escola para trabalhar na carpintaria de seu pai. Gostava de esportes e era ótimo atleta. Casou-se com dezenove anos e tem agora três filhas, todas com boa saúde.
Sua doença principiou em 1924. Tornou-se cansado e irritado e teve de abandonar o trabalho por várias semanas. Retornou ao trabalho em novembro mas continuou perdendo peso. Começou a ter então suores à noite e sua tosse piorou tanto que ele consultou o Dr. Young de Sandymount em Dublim. Achou-se o bacilo da tuberculose em seu esputo e os raios X mostraram tuberculose adiantada em seus pulmões.
McDonald foi enviado a um sanatório, onde ficou cinco semanas. Entrou então em um hospital em Dublim (abril de 1925). Lá teve duas hemorragias dos pulmões. Perdeu treze quilos em seis meses.
No dia 3 de julho de 1925, desobedecendo as ordens médicas, embarcou para Joanesburgo na África do Sul onde residiu seis meses. Sua tosse passou, ele ganhou peso e forças. Arranjou emprego em uma mina de ouro, contudo, trabalhando sempre na superfície. Durante cinco anos sua saúde permaneceu boa. No começo de 1931, depois de uma vigorosa partida de futebol, sentiu dor nos quadris e pescoço. Logo depois a dor começou no lado esquerdo e na parte inferior das costas, especialmente quando andava de motocicleta. E a situação piorou tanto que ele não podia brecar a motocicleta sem sentir uma aguda dor na parte inferior das costas. Em abril de 1931 seu médico, depois de examinar sua espinha nos raios X, constatou tuberculose na décima segunda vértebra torácica.
McDonald foi posto num colete de aço que o envolvia dos ombros aos quadris, mas se abria para que pudesse tomar banho de sol.
Depois de três meses não apresentou melhora. O médico sugeriu uma operação de enxerto no osso. McDonald negou-se a fazê-la e voltou para Dublim. Na viagem abandonou o colete por achá-lo muito quente e cansativo. De volta ao lar, tentou trabalhar, mas as dores no lado esquerdo e nas costas eram tão fortes que ele teve de parar. Durante três meses descansou. Entrementes não teve nenhum cuidado médico.
Em junho de 1932, foi examinado pelo Dr. Lane de Dublim que diagnosticou tuberculose na vértebra e o enviou ao Dr. Lynch para verificar se o estado de seus pulmões permitiria uma operação. O Dr. Lynch disse que não; os pulmões estavam ruins. Mais uma vez o jovem foi posto no colete de aço.
Em setembro de 1932, um grande abcesso surgiu na região lombar direita e outro, mais tarde, no ombro esquerdo. O abcesso do ombro foi aspirado, mas o da região lombar teve de ser aberto, porque o pus era muito grosso. Ambos os abcessos lançaram pus livremente durante a primavera de 1933.
Em junho de 1935, McDonald piorou. Desmaiou durante um violento acesso de vômito. Uma semana mais tarde seu corpo estava muito inchado. Consultou ainda outro médico, Dr. O'Connell de Dublim, que diagnosticou nefrite aguda (inflamação dos rins). Foi levado para o Hospital Meath onde ficou durante treze semanas, outra vez sob os cuidados do Dr. Lane e também do Dr. Boxwell. O exame da urina revelou albumina, células sanguineas, corpos granulosos e hialinos. Qualquer movimento provocava terrível dor principalmente nas costas, e, com frequência, tinha que lhe dar sedativos.
Em novembro de 1936, o Dr. Boxwell disse que o paciente deveria ser enviado a um hospital de casos irremediáveis. O alegre nome desta instituição era "Hospital para os Agonizantes". McDonald não aceitou e voltou para sua casa. Chamou novamente o Dr. O'Connell. O médico visitou-o semanalmente por três meses. A família vivia de uma pequena loja de fumo que a Senhora McDonald instalou numa parte da casa.
O médico asseverou à Senhora McDonald que muito pouco poderia fazer por seu marido, e que o considerava um caso perdido. Finalmente em junho de 1936, disse a seu paciente: McDonald, sinto muito - não posso fazer mais nada por você.
Foi então que McDonad pensou em Lourdes. Tinha um forte pressentimento de que seria curado lá. Afirmava constantemente aos amigos que, se fosse a Lourdes, voltaria andando. Insistiu com sua mulher que pusesse na mala um terno e roupas nas quais deveria voltar como uma pessoa sã.
Ele foi com a Peregrinação de Jovens Católicos da Irlanda que se realizou de 4 a 10 de setembro de 1936. A viagem teve que ser feita numa padiola. Permaneci inválido por mais de quatro anos, diz McDonald, e durante quinze meses antes de vir para Lourdes tive que fica de cama. Duas vezes recebi a extrema-unção e foi-me dito por mais de um médico que para o meu caso não havia recurso. Era incapaz de sentar-me por mais de quatro minutos para que me trocassem os curativos. A dor quase me levou à loucura algumas vezes. Quando a ambulância veio a fim de levar-me para o trem, fui colocado em um lençol e com o máximo cuidado levado da cama para a padiola e desta à ambulância.
Para o ingresso na Peregrinação ele tinha um certificado do Dr. O'Connell atestando que estava com a doença de Pott na décima segunda vértebra dorsal, nefrite, arttrite tuberculosa no ombro esquerdo. Algumas quinze chapas de raios X do Hospital Meath estabeleciam o diagnóstico. O Dr. Hannigan era encarregado da peregrinação que incluía doze médicos.
McDonald deixou Dublim rumo a Lourdes na noite de 3 de setembro de 1936. Suas feridas foram pensadas em 4 de setembro pela enfermeira Falvey no trem de peregrinação. Ela constatou que havia muito pus supurando das chagas em suas costas e ombro.
Chegou a Lourdes em um sábado, 5 de setembro, e suas feridas foram pensadas aquele dia pelo Dr. Hannigan. Neste curativo o médico notou que McDonald tinha duas grandes chagas (expelindo pus) na região lombar, uma grande chaga embaixo na parte externa da clavícula e outrs duas no ombro esquerdo.
Na manhã de 6 de setembro, foi levado para os banhos e cuidadosamente descido nas águas do tanque por seis padioleiros, deitado numa rede apropriada para este fim.
Os curativos foram retirados e quando ele saiu, outros foram feitos. Deste modo as águas de Lourdes tocaram diretamente suas feridas e a lavaram. Ele estava completamente gelado por causa do banho e não se sentia melhor.
No dia 7 de setembro foi banhado outra vez. Sentia-se atordoado e gelado mas depois que foi vestido e levado da piscina à Gruta onde havia uma cerimônia religiosa, afirmou que começou a sentir "os primeiros indícios de saúde".
- Deve-se lembrar, diz o Dr, Blanton, que durante quinze meses o paciente esteve de cama, tão fraco que tinha que usar a comadre, incapaz de mover os quadris ou ombros sem grande dor. Mas agora, numa padiola em frente à Gruta, ele experimentava mover um pouco o braço. Não havia dor. Soltou as correias de seu colete de aço e levantou os ombros do travesseiro, sem dor. Pensou que talvez não sentisse dor porque o choque do banho lhe tinha desviado a mente da dor. Esperou uma hora e moveu quadris outra vez. Novamente nenhuma dor.
- Minhas esperanças concretizaram-se, disse McDonald jubilante. A Santíssima Virgem curou-me. Acrescentou que na Gruta sentiu-se tão bem como nunca em sua vida. Sabia que podia levantar-se e andar. Os padioleiros e enfermeiras impediram.
Passou todo aquele dia ao ar livre em frente à Gruta. De volta ao hospital à tarde disse ao médico que se levantaria na manhã seguinte. Foi-lhe proibido.
Na manhã seguinte (8 de setembro), quando o médico e enfermeira saíram do quarto, McDonald levantou-se e andou até ao pé da cama, a primeira vez que ficava em pé após quinze meses. Afirmou: - Meus joelhos cederiam e eu cairia no chão se não me tivesse segurado à cama. Vestiu-se sem auxílio de ninguém e andou sem dor.
Aquele dia foi levado à Gruta, mas não como anteriormente em uma padiola mas numa cadeira de inválido. - Fiquei na cadeira até terminada a bênção dos doentes à tarde. Deixei então a cadeira... e subi as escadas e entrei na Igreja do Rosário onde fui capaz de fazer uma completa genuflexão e saí da igreja para a Praça onde sentei em minha cadeira para a fotografia oficial dos peregrinos.
Este era o homem que por mais de um ano esteve impossibilitado de fazer o menor movimento sem sentir dores atrozes, ou levantar sua cabeça ou sentar-se por mais do que quatro minutos de uma vez.
- Aquela noite, diz McDonald, disse ao médico que ele podia desmontar minha padiola e colocá-la no vagão de bagagem, porque eu viajaria para o lar como passageiro comum. Na quarta-feira cedo vesti-me sem qualquer auxílio e fui levado para os banhos pela terceira vez, entrei, despi-me e vesti-me sem qualquer ajutório. Isto eu não fazia há mais de três anos.
Deixei Lourdes numa quarta-feira à noite. Nossa viagem de regresso foi muito alegre. Chegando à estaçãode Dublim tive o máximo prazer em dispensar a ambulância que me fora tão necessária uma semana antes. Chamei um táxi, cumprindo assim minha promessa de voltar andando.
Quando McDonald deixou Lourdes, sua cura não era ainda completa, segundo o relatório do Dr. Vallet, suas feridas não estavam completamente fechadas e expeliam pus. Nessas condições ele não foi levado para a Corporação para exame. Foi no trem em que regressava, antes de chegar a Paris, que suas feridas desapareceram. O Dr. Hannigan relatou assim:
Eu certifico, como médico encarregado dos doentes da Peregrinação Irlandesa, que examinei o Sr. Carlos McDonald. Seu estado era o seguinte: Três fístulas na região lombar, todas expelindo pus. Durante as viagens a Lourdes de ida e volta, eu pessoalmente fiz-lhe os curativos. Pouco antes de desaparecerem as feridas saía ainda muito pus e o paciente tinha que ficar em sua maca.
Depois do segundo banho houve grande melhora e eu autorizei-o a tentar andar, o que ele conseguiu com facilidade. Na viagem de volta seus curativos foram feitos por enfermeiras em Paris. Apenas uns humores saíam de uma de suas fístulas lombares. Tudo o mais estava curado.
O Dr. Hannigan escreveu outra vez em 29 de agosto de 1937:
Vi o Sr. McDonald duas vezes depois de seu retorno de Lourdes. Posso agora declarar definitivamente que não há mais vestígios de sua antiga moléstia. O Sr. Carlos McDonald está um homem normal, ativo, saudável, que pode trabalhar o dia inteiro sem perigo e sem fadiga excessiva. (Ele agora se dedica a negócios de seguro). Todas suas antigas fístulas sararam completamente. Estou satisfeito por poder pessoalmente atestar essa cura, pois quando o vi pela primeira vez achei que era um caso sem esperanças. (Assinado, Ch Hannigan).
Do Dr. Young, 49 Tritonville Road, Sandymount, Dublim, veio este certificado:
Certifico que em 1934 examinei o Sr. McDonald e o achei sofrendo de lesão tuberculosa do ombro esquerdo e um abcesso lombar. Recentemente examinei o Sr. McDonald e não achei mais sinais de sua doença e considero-o completamente curado.
Do Dr. C. J. O'Connell, 35 Fairview, Strand, Dublim.
Certifico que no dia primeiro de setembro de 1937 examinei o Sr. Carlos McDonald e achei os abcessos, dois na região lombar e três perto dos ombros, completamente curados. A urina não contém sangue ou albumina. Na minha primeira visita em 1934 este paciente estava sofrendo de nefrite aguda e tuberculose adiantada na vértebra dorsal. Foi enviado para o Hospital Meath onde teve o tratamento do Dr. Lane e ficou treze semanas, deixando o hospital por vontade própria. Visistando-o no dia seguinte em sua própria casa, a urina continha albumina e pus. Fiz o certificado para a Peregrinação e considerei o caso desse homem incurável.
O diagnóstico feito pelo Dr. O'Connell no certificado de Peregrinação é o seguinte: Mal de Pott, cárie, nefrite, omoplata tuberculosa.
O relatório de raios X feito em 9 de setembro de 1937 pelo Dr. R. A. Ruyert do Hospital Santo Kevin, em Dublim, é o seguinte:
A junta do ombro esquerdo mostra claramente sinais de antiga lesão na junta entre o úmero e omoplata que teve progresso acentuado. O mal não existe mais, a cura resultou por anquilose. O rim esquerdo apresenta foco de doença agora completamente cicatrizada. Um exame por injeção de uroselectan mostra no que concerne aos rinas que o rim esquerdo está hipertrofiado, a pelve dilatada e sua conformação mudada. Este rim está entretanto funcionando normalmente. O rim direito está um pouco dilatado mas trabalha normalmente. Ambos pulmões apresentam lesões tuberculosas, agora curadas. A pleura está um pouco inchada na parte superior esquerda. É dificil dizer se a doença está curada mas o certo é que está inativa. (Assinado, Dr. Ruyert).
Logo que McDonald retornou a Dublim começou a andar meia milha por dia. Após duas semanas conseguiu andar várias milhas. Em dezembro (1936) começou a andar de bicicleta. No dia 16 de setembro de 1937 voltou a Lourdes, onde o Dr. Blanton e outros médicos o examinaram no dia 17 de setembro.
Trinta e dois médicos estavam presentes na Corporação durante o exame de McDonald. Suas conclusões finais estão neste relatório:
Carlos McDonald sofria de: 1) tuberculose no ombro esquerdo com três fístulas; 2) tuberculose na espinha dorsal com duas fístulas; 3) nefrite crônica caracterizada pela presença de pus, sangue, albumina. Estes três males estavam muito adiantados por ocasião de sua peregrinação à Lourdes, as cinco fístulas expelindo pus.
Foram abruptamente cortados em sua evolução em 7 de setembro. Uma cura imediata depois de uma banho na piscina foi seguida pela cicratização definitiva das cinco fístulas em menos de quatro dias e do retorno da normal secreção urinária livre dos germes infecciosos, cessação da dor, retorno de movimentos parciais do braço esquerdo e região lombar.
Esta cura obtida sem uso de medicamentos ou qualquer agente terapêutico está confirmada por um ano de excelente saúde e trabalho... Nenhuma explicação médica, nas condições atuais dessas afecções tuberculosas, julgadas incuráveis pelos especialistas chamados para tratá-lo, e cujo começo se deu com infecção geral, depois com localizações ósseas. Esta cura é considerada inexplicável pelas leis biológicas.
As assinaturas de trinta e dois médicos terminam este relatório.
Na sua exposição para seus colegas americanos o Dr. Blanton concluiu:
Resumindo, temos um homem que evidentemente estava atacado de tuberculose nos pulmões. Tinha também uma infecção na décima segunda vértebra torácica que a destruiu, e uma infecção do ombro que quase inutilizou a estrutura óssea da junta. De cama quinze meses, precisava ter suas feridas medicadas duas vezes por dia. Em seguida ao segundo banho na piscina conseguiu mover-se sem dor, chegou mesmo a andar nesse dia e dentro de três semanas podia andar várias milhas por dia; suas chagas foram curadas praticamente em duas semanas.
Qual a explicação desta cura? - Porque esta é uma cura da qual eu mesmo tive de me convencer. Os relatórios reafirmam esta conclusão e eles foram feitos por médicos insignes. Além disso, este não é um caso isolado mas um dos dez ou doze aproximadamente que ocorrem por ano em Lourdes, dos quais os relatórios parecem perfeitos e honestos.
Devemos por de lado como infundadas as acusações de que esses casos são fingidos ou histórias de charlatões. Parece haver neste santuário uma grande aceleração no processo de cura, desaparecimento de sintomas e sensação de saúde. A percentagem dessas curas é muito grande para ser considerada como coincidência, nem os detalhes das curas estão de acordo com os processos de convalecença com que estamos acostumados. Mesmo os curados de doenças de sintomas coincidentes em nossos hospitais não se levantam e andam sem dor no espaço de dois ou três dias, após quinze meses de cama com dores contínuas.
A razão das curas parece estar em algum aspecto relacionado com a psicologia. É minha opinião que neste caso e em casos semelhantes em Lourdes há uma aceleração no processo de cura, devida à emoção motivada pelo traspasse para a toda poderosa, querida Virgem Maria...
Sinto que estamos justificados, com o que vimos em Lourdes, afirmando nossa crença experimental que casos destinados à morte não somente foram suspensos mas retrocederam e a libido deste modo liberta favoreceu o indivíduo na restauração da saúde. Acredito que algo acontece e que é, como o Dr. Vallet afirmou, fora das leis da natureza (*).
________________
(*) Carlos McDonald goza hoje de ótima saúde, um homem robusto de quarenta e nove anos. Visita Lourdes frequentemente, e esteve lá com sua filha pouco antes de minha peregrinação.



Cranston, Ruth. O Milagre de Lourdes. São Paulo: Melhoramentos, s.d. pp. 69-76

ALGUNS CASOS DE CURAS MILAGROSAS EM LOURDES

Outros casos extraordinários espantaram os médicos durante aqueles primeiros anos de curas em Lourdes. A pequena Ivone Aumaitre, filha de um médico de Nantes, teve seus pés tortos curados com dois anos de idade. Seu pai relatou o caso nos registros da Corporação Médica. Constância Piquet foi curada de câncer no seio, - um caso adiantado que os Drs. Laverne e Morle de Paris consideraram inoperável. A Senhora Pecantet foi curada de cãncer no lábio inferior. Durante dois anos podia alimentar-se só com líquidos através de um tubo. Após lavar-se vários dias nas águas de Lourdes a horrivel ferida desapareceu, e ela ficou completamente normal.
Maria Le Marchand tinha metade de sua face carcomida por uma tuberculose de pele. Quando saiu da piscina só uma comprida cicatriz vermelha restou de seu mal primitivo. O Dr. d'Hombres dá-nos uma perfeita descrição da aparência deste caso antes e depois da cura.
Com estes casos impressionantes não surpreende que o interesse público aumentasse espantosamente, que até médicos radicalmente descrentes ficassem abalados. Um lugar onde esses fatos ocorriam não podia ser mais referido como lugar de charlatães e desequilibrados.
Nos primeiros anos deste século [XX] realizaram-se curas espetaculares como as da Senhora Biré, Gargam, Adélia Cofette (outro caso grave de acidente), Maria Borel, Henriqueta Hauton, Maria Bailly, sobre a qual Carrel escreveu, e muitos outros.
As curas foram examinadas com crescente interesse pelos médicos da França e de outros países.
Em 1930 um médico inglês escreveu: - "A atitude de toda classe médica para com Lourdes tem mudado consideravemente nos últimos anos. A mudança foi do ceticismo e incredulidade para o reconhecimento, não necessariamente do sobrenatural, mas que as curas de Lourdes não podem ser explicadas pelas leis biológicas conhecidas".
Em dezembro de 1931, na mesma universidade onde, pelo Professor Pitrès, Lourdes tinha sido ultrajada, foi realizado um Congresso da Sociedade Médica e Cirúrgica de Bordéus para um sério e respeitoso estudo das curas de Lourdes.
O Dr. Pedro Mauriac, irmão do famoso acadêmico e decano da Faculdade de Medicina de Bordéus, narrou a história de um grave caso de reumatismo deformante, que estava piorando cada vez mais já havia três anos e que foi milagrosamente curado após uma peregrinação a Lourdes.
Nesse mesmo congresso o Professor Portman relatou a cura dum câncer na maxila superior. O Professor Duverguey, a de uma úlcera varicosa; o Dr. Moulinier, a repentina melhora de uma menina tuberculosa, a cura ainda confirmada após passarem nove anos. O Dr. Goudon expôs o caso de uma enfermeira que caiu de um elevador no terceiro andar, sofrendo contusões, fratura da bacia e ambas as pernas. Os ossos fraturados não queriam aderir e aparentemente a morte não demoraria a ocorrer. A paciente foi para Lourdes apesar das objeções de seu médico. No quarto dia lá, cessou toda dor, dois dias depois ela já podia ficar em pé. Voltou para o trabalho e estava trabalhando em ótimo estado físico vários anos após o acidente.
Tudo isto pode parecer um conto de fadas médico, mas que se narrem contos de fadas numa organização tão notável e respeitada como a Sociedade de Medicina e Cirurgia de Bordéus - os fatos foram publicados também na "Gazeta Quinzenal de Ciência Médica de Bordéus" - parece pouco provável.
A verdade é que quarenta anos de conscienciosos trabalhos pelos médicos da Corporação Médica foram coroados de êxitos. Em 1927 foi fundada a "Associação Médica Internacional de Lourdes", uma organização científica para o estudo das curas de Lourdes, cujo número de membros aumentou rapidamente, incluindo médicos de muitos países. Grande correspondência foi-se desenvolvendo, vindo cartas dos pontos mais longínquos do globo, pedindo esclarecimentos. O presidente da Corporação Médica foi convidado a fazer conferências na Irlanda, Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Suiça, Itália, Argélia, Marrocos, Egito e se não fosse a guerra se estenderia pela América do Sul e Antilhas.
Do Japão chegaram pedidos de uma relação de curas de Lourdes, para ser examinada por médico conspícuo daquele país, que queria conhecer o assunto antes de fazer uma visita a Lourdes. Houve peregrinações a Lourdes provenientes do Ceilão, Dakar, Estados Unidos, Trinidad, Dinamarca, Lituânia e muitos outros países.
Em 1950 o Dr. Vallet, retirando-se do cargo de Presidente da Corporação Médica, foi feito oficial da "Legião de Honra".
Apesar de tudo isto, até hoje, ainda há hostilidade e oposição. É preciso ter coragem (asseveraram-me diversos médicos americanos) para trazer à baila o assunto de Lourdes, em qualquer jantar ou reunião médica. Encontram-se olhares de piedade, surpresa ou manifesta impaciência em alguns círculos.
Mas, conforme escreveu o Dr. Marchand: "O período de desprezo sistemático já passou. Muitos médicos visitaram Lourdes, chegando lá, absolutamente descrentes e irreconciliáveis adversários do milagroso. Mas partiram convencidos pelas provas que tiveram, e não envergonhados de afirmar que presenciaram fatos que lhes era impossível explicar."
.
Cranston, Ruth. O Milagre de Lourdes. São Paulo: Melhoramentos, s.d. pp. 29-31.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

SENHORA MARIE BIRÉ - milagre reconhecido n. 37

Uma cura de cegueira é sempre emocionante. A Senhora Biré, de Luçon, trabalhadora no campo, mãe de seis crianças, levantou-se uma manhã não para a luz, mas para a total escuridão.
Durante muito tempo vinha tendo violenta dor de cabeça, hemorragias do estômago e tonturas esquisitas. Ela sabia que se encontrava gravemente enferma. Mas nunca lhe tinha passado pela mente isso: Cegueira!
O médico procurou confortá-la em seu desespero. Talvez fosse apenas temporárias. Este casos davam-se de vem em quando, eram conhecidos por "cegueira nervosa". "O delicado mecanismo do olho sensível a distúrbios internos, tensões, etc."
Após o exame a voz do médico tornou-se grave, pausada. - Lamento dizer-lhe, mas os nervos óticos estão completamente arruinados de ambos os lados. Sinto informá-la de que para esses casos não há melhora, nem cura.
Em suas anotações o Dr. Hibert afirmava: "Reflexos luminosos completamente destruídos. Cegueira proveniente de dupla atrofia papilar".
As papilas são discos óticos nas extreminadades dos nervosóticos, normalmente, uma rede de fortes fibras finas, de bonita cor vermelho-alaranjada. No caso da Senhora Biré elas estavam cinzento-esbranquiçadas e gastas, restanto um mero fio.
Seu médico afirmou-lhe que o próprio mecanismo da visão estava destruído.
Como você se sentiria? Como é que qualquer um se sentiria? Pessoa que vivia de seu trabalho, com crianças, com dificuldades monetárias, além de tudo cegueira.
A Senhora Biré piorou rapidamente. O distúrbio emocional trouxe-lhe mais fortes hemorragias. Estava impedida de ingerir alimentos, vômitos contínuos e desnutrição acarretaram-lhe uma fraqueza perigosa. Esta situação perdurou por seis meses. Sua família e o Dr. Hibert estavam profundamente preocupados.
Finalmente ela decidiu acompanhar os peregrinos de Vendéia para Lourdes. Seu médico e sua filha mais velha acompanharam-na.
No trem, durante a noite, teve longas crises de desfalecimentos e chegou a Lourdes em estado grave.
De manhã levaram-na para os banhos, mas a multidão era tão grande que ela teve de voltar para a Gruta, onde ficou por algum tempo, em seu carrinho de doente, orando com os outros enfermos.
A missa terminou às 10:15 e a Hóstia Sagrada foi levada de volta para a Igreja do Rosário. Quando o padre passava por perto, a Senhora Biré inesperadamente levantou-se e disse numa voz quase inaudível. - Ah! Vejo a Virgem Santíssima. E caiu de novo no carrinho, desmaiando. Um pequeno filete de sangue saiu-lhe dos lábios. Sua filha pensou que estivesse morrendo.
Mas a Senhora Biré recuperou os sentidos, viu a imagem da Virgem lá no nicho e disse que a Virgem estava menos branca e reluzente do que da primeira vez, mas podia ver.
Muitas pessoas reuniram-se em torno dela. Foi levada para a Corporação Médica, levando consigo o atestado do Dr. Hibert que certificava sua completa cegueira nos meses anteriores.
Diversos médicos examinaram-na, entre eles o Dr. Lainey, um oculista de Ruão, que deixou o seguinte relatório na Corporação:
O exame dos olhos com o oftalmoscópio mostrou em ambos os lados uma papila branco-opalina, desprovida de cor. As veias e artérias, repuxadas para um lado, estavam finas como um fio. O diagnóstico era claro: atrofia branca do nervo ótico, de causa cerebral. Esta, uma das mais graves infecções, é tida por todas as autoridades médicas como incurável. Mas a Senhora Biré tinha recuperado a vista aquela manhã. Podia ler as menores letras, e enxergava perfeitamente também a distância.
Ela recuperara a vista mas as lesões ficaram, desaparecendo pouco depois.
Dez médicos fizeram um segundo exame no dia seguinte, constatando: o órgão ainda atrofiado e sem vida, a vista clara e perfeita.
Seguiu-se um volumoso e rigoroso interrogatório, com muitas palavras científicas que a paciente não entendia.
- Como é que a senhora pode ver se não tem papilas? um dos médicos perguntou impaciente.
- Peço perdão, a Virgem Santíssima deu-me algumas - replicou a Senhora Biré com espírito. - Ouçam, senhores, eu não estou familiarizada com seus longos e sábios vocábulos. Tenho só uma coisa a dizer, e disse-a com termos quase bíblicos: Quase seis meses eu não vi. Não pidia ver ainda ontem cedo, e agora posso ver. Isto é bastante para mim.
Tinha de ser o suficiente também para os inquiridores. Eles reconheceram que a cura foi completa. O futuro diria se permanente.
Um mês após seu retorno para o lar a Corporação Médica pediu à Senhora Biré para ir a Poitiers onde três especialistas, entre eles o Dr. Rubbrecht, um oculista belga, a examinaram. A Corporação queria saber se ela ainda estava vendo com olhos "mortos". o Dr. Rubbrecht verificou que o fenômeno tinha cessado.
"Todos os traços da atrofia papilar desapareceram", escreveu. "Não há mais nenhuma lesaõ, e a cura é completa."
Desde o momento da cura a Senhora Biré podia alimentar-se normalmente; logo recuperou suas forças. Durante o ano seguinte aumentou seu peso de 23 quilos, podia fazer todo o serviço da casa e sentia-se perfeitamente bem.
Um ano após voltou a Lourdes. O Dr. Lainey examinou-a outra vez. Achaou os olhos normais e a vista perfeita. Anotou: - "A Senhora Biré está gozando ótima saúde." O presidente da Corporação, Dr. Vallet, viu-a vinte anos mais tarde. Sua vista estava ainda excelente. E uma Comissão Canônica, após longas diligências declarou o seu caso como uma das curas milagrosas da Igreja.
O belga Dr. Mariaux, discutindo este caso na sede da Corporação Médica, disse: "A volta instantânea da vista e a recuperação do nervo ótico esclerosado é um fato absolutamente inexplicável sob o ponto de vista clínico." Todos os médicos que estudaram o fenômeno foram unanimemente da mesma opinião.
Em dois desenhos depois fotografados o Dr. Lainey mostrou os olhos da Senhora Biré como estavam quando do primeiro ano em que a examinou e depois no segundo.
Um médico americano, Dr. J. Arthur Reed, de Pasadena, Califórnia, que recentemente operou meus olhos, disse ao ver o relatório e o desenho da Corporação Médica: "Este caso é inexplicável pela ciência. Empenhe-se em publicá-lo. Qualquer oftalmologista se pasmaria diante dessa cura. Casos de atrofia ótica como este na fotografia são destituídos de esperança."





Cranston, Ruth. O Milagre de Lourdes. São Paulo: Melhoramentos. s.d. pp. 26-29.

GABRIEL GARGAM II

Quando o departamento francês de pensões começa a pagar auxílio, e grande auxílio, pode estar certo de que a lesão é genuína. Isto foi o que eles fizeram no caso de Gabriel Gargam, empregado do correio em uma estrada da ferro.
Numa fria tarde de dezembro, o "Expresso Sudoeste de Orléans" desabalava noite adentro entre Bordéus e Angoulême. No carro postal, perto da máquina, os funcionários trabalhavam com presteza e silenciosamente, classificando a correspondência. Gargam trabalhava quieto e ligeiro como os outros. Dentro de poucas horas estaria em casa, chegaria faminto e cansado, esperando pela excelente sopa que sua mãe sempre guardava para ele na grande panela no fogão. Tiraria os sapatos, poria os chinelos, um bom cachimbo, um gole de conhaque, uma olhadela nos jornais, e depois iria para a cama. Assim pensava, separando as cartas, cantarolando uma cançoneta.
De repente, um barulho ensurdecedor. O trem dobrou-se. Madeiras rangendo, lâmpadas quebrando, pessoas gritando, uma ponte caindo no barranco.
Gargam sentiu uma dor lancinante nas costas. - Depois, escuridão.
Quando voltou a si estava num hospital, enfaixado dos pés à cabeça, paralítico da cintura para baixo. Tinha sido esmagado quase mortalmente, sua espinha fora atingida de tal maneira que era inútil qualquer esperança de curá-la. Com o menor movimento vomitava. Tinha que ser alimentado por meio de um tubo, o que lhe causava sofrimentos cruéis. O tubo podia ser inserido apenas uma vez por dia. Sem alimentação, ele foi emagrecendo e enfraquecendo. Feridas com gangrena surgiram de ambos os pés. Seu médico, Dr. Decressac, declarou em sua exposição que a lesão na espinha o levaria à morte.
Os médicos da Estrada de Ferro Orléans e a Repartição Postal fizeram relatórios precisos para o tribunal que julgaria o caso. À vítima foi concedida a vultuosa soma de 6.000 francos de anuidade, o tribunal declarando-o um destroço humano, que necessitaria doravante de pelo menos duas pessoas para cuidar dele dia e noite.
Após vinte meses de hospital estava debilitando-se cada dia que passava.
Já não podia engolir. As feridas dos pés estavam piores, os médicos avisaram a família que sua morte não tardaria.
Gargam era completamente ateu e não ia à igreja há mais de quinze anos. Mas sua mãe era muito religiosa. Por causa de sua insistência ele concordou em fazer uma peregrinação a Lourdes. A jornada, fê-la com muita dificuldade, carregado numa padiola.
Na primeira tarde em Lourdes foi colocado no caminho por onde passava a Procissão do Santíssimo Sacramento. Estava muito fraco, completamente inconsciente, seu aspecto macilento, gélido e azulado. No momento, porém, em que a enfermeira pensou estivesse falecendo, repentinamente abriu os olhos, levantou o corpo apoiando-se nos cotovelos e caiu outra vez, mas fez novo esforço. Desta vez conseguiu ficar em pé. Deu alguns passos atrás do Santíssimo Sacramento, mas estava sem roupas e descalço.
Fizeram-no parar e voltar para sua padiola.
Gargam estava apalermado. Nada que lhe fizessem importava agora. Estava curado. Sua paralisia tinha desaparecido. Ele readquiriu completamente a liberdade de movimentos.
Sua entrada para exame pela Corporação Médica foi dramática. Sessenta médicos, muitos repórteres, crentes e descrentes o envolveram.
Gargam chegou em sua maca, dizem as crônicas, envolto em um roupão. Ficou na nossa frente - um espectro. Os olhos grandes e fixo era as únicas coisas expressivas em seu rosto pálido e sem cor.
A emoção era tão indescritível e o número de curiosos tão grande que tiveram de transferir o exame para o dia seguinte.
Agora Gargam não veio mais em uma maca, estava com um terno novo e andando. As feridas de seus pés, ontem abertas e supurantes, estavam se cicratizando a olhos vistos. Ele andava sem muita dificuldade. Os médicos examinaram-no e fizeram-lhe perguntas durante duas horas.
O exame de raios X mostrou a compressão na vértebra lombar onde a lesão da espinha tinha causado paralisia da parte inferior do corpo. Agora já não mais necessitava do tubo alimentar, comia normalmente.
Em poucos dias seu peso aumentou de 9 quilos, e de quatro polegadas a espessura de sua perna.
Desde o princípio foi de uma paciência extraordinária. Curiosos e repórteres o assediavam. Ele sempre lhes respondeu com calma e nunca mostrou enfado.
A volta de Gargam para o lar foi um acontecimento sensacional. A nova de sua cura espalhou-se por todas as estações da estrada de Orléans.
Ele foi examinado pelo médico do Departamento de Correios, que o mandou voltar ao trabalho.
Este caso teve grande repercussão. Os sessenta médicos que o examinaram em Lourdes foram unânimes: "Esta cura é inexplicável cientificamente".
Podia-se pensar que a direção da Estrada fez esforços para rever a anuidade, mas o que se deu foi o contrário, Gargam é que teve dificuldade em persuadi-los a receber de volta o dinheiro.
Voltou a Lourdes anualmente por muito tempo e trabalhou como maqueiro, servindo-se daqueles mesmos pés que estiveram com gangrena.*
* Ele esteve ali em 1951. Morreu em 1952, com a indade avanaçada de oitenta e três anos.
Cranston, Ruth. O Milagre de Lourdes. São Paulo: Melhoramentos. s.d. pp. 24-26

quarta-feira, 12 de maio de 2010

JOAQUINA DEHANT - milagre reconhecido n. 9



Também nos primeiros dias deu-se a sensacional cura de Joaquina Dehant. Ela tinha vinte e nove anos e sofreu durante doze anos de uma horrível úlcera na sua perna direita.
Joaquina veio de Gesves na Bélgica. O Dr. Marique e o Dr. Froidebise que a tratavam lá, forneceram detalhes preciosos em seus certificados descrevendo seu estado quando partiu para Lourdes.
Afirmavam que se encontrava em sua perna direita uma úlcera de doze polegadas de comprimento e seis de largura, até o osso. Durante esses anos os músculos da perna tinham sido destruídos em parte, tinha também osteonecrose. A ferida deitava constantemente pus malcheiroso. O pé, faltando-lhe qualquer apoio, estava torto, a junta dos joelhos estava petrificada. [...] No trem, o odor da ferida causou náuseas a todos.
Mas Joaquina estava tão certa de que seria curada em Lourdes, que levou um par de calçados para quando voltasse. Chegando a Lourdes foi levada para a Gruta e sua perna foi banhada na água do tanque por meia hora. De nada valeu. Sem perder as esperanças, voltou horas mais tarde, e mergulhou a perna outra meia hora. Foi tomada por uma dor alucinante, mas depois uma sensação de descanso e o desaparecimento de todo sofrimento. A ferida estava completamente curada, recoberta pela pele, restanto apenas uma cicatriz.
A Srta. Dorval que acompanhou Joaquina aos banhos, o Abade Devos que dela cuidou no trem, e muitos romeiros que a tinham evitado, todos verificaram sua rápida e radical mudança.
A perna direita retomou sua forma reta e normal, servindo na sua antiga função.
Quando Joaquina desceu em Gesves em sua viagem de regresso, usava seus calaçados e andava tão bem como qualquer um. Ela já fez quarenta e cinco peregrinações de agradecimento a Lourdes desde sua cura, sempre com a melhor das disposições.
A Igreja inclui Joaquina Dehant como umas de suas cinquenta e uma [à época da publicação do livro, em meados dos anos 1950] curas miraculosas comprovadas.


Fonte: Cranston, Ruth. O milagre de Lourdes. trad. Ricardo Azzi.
São Paulo, Ed. Melhoramentos, s.d., pp. 23-24

quinta-feira, 6 de maio de 2010

A PRIMEIRA CURA EM LOURDES [milagre reconhecido n. 5]

.
Um dos primeiros a abandonar seu ceticismo primitivo foi o próprio médico de Bernadete, Dr. Dozous.
O Dr. Dozous era uma pessoa que dificilmente se esperava encontrar numa aldeiazinha monstanhosa francesa no meio do século dezenove.
Quando surgiram os primeiros rumores sobre a jovem Soubirous, estava ele tão incrédulo como os outros da localidade. Mas Douzous era realmente um cientista e, antes de formar uma opinião, resolveu investigar.
Ele foi à Gruta com seu cronômetro - o único instrumento científico à mão de que dispunha - para observar Bernadete em suas visões. A beleza sobrenatural de seu rosto, durante aqueles períosos de êxtase, causou-lhe viva impressão.
Depois desta primeira experiência, continuou a ir lá vigiá-la diariamente. Cronometrou seus estados psicológicos e cuidadosamente anotou suas observações.
Seus trabalhos foram recompensados, pois enquanto a observava presenciou um dos primeiros milagres de Lourdes. Este verificou-se em outro de seus pacientes, uma criança vizinha de Bernadete, Luís Justino Bouhohorts.
Luís Justino tinha dezoite meses. A mãe de Bernadete foi muitas vezes chamada por aquela mãe desesperada para auxiliá-la durante os terríveis ataques de que era vítima seu filho. O pobrezinho tinha uma doença que lhe paralisara completamente as pernas. O Dr. Douzous em suas notas sobre o caso dizia: - O diagnóstico vacila entre meningite e poliomielite.
O coitadinho não podia andar, ficar de pé ou sentar-se. Tinha convulsões violentas e febre alta com seríssimos ataques progressivos. O médico dizia: - É uma questão de horas,
A criança, no seu berço, gemia e respirava ofegante. A mãe tentava auxiliá-lo, porém o pai repelia: - Deixa-o. Não vês que agoniza?
Ele foi procurar uma vizinha para providenciar o enterro. Esta vizinha não demorou a a chegar com a mortalha. Mas a mãe não desistia.
Em dado momento, arrebatou a criança do berço, enrolou-a em seu avental e correu em direção à Gruta.
Encontrou a piscina que os operários tinham cavado alguns dias antes e naquela água gelada mergulhou o filho até a altura do pescoço por quinze minutos. Os vizinhos presenciaram a cena boquiabertos. O Dr. Douzous, que lá estava com seu cronômetro observando Bernadete, contou também os minutos em que o menino da Senhora Bouhohorts ficou na água; quando ela o tirou da piscina estava rígido e azulado.
Sua mãe levou-o para casa e colocou-o novamente no berço. Ao vê-lo, o pai disse asperamente: - Como é, está feliz agora? Acabou de matá-lo?
A mãe ajoelhou-se e rezou ao lado da caminha. Após alguns instantes, puxou a manga do paletó do marido. - Veja, ele respira!
E a criança estava respirando, pausada e normalmente. Adormeceu e teve uma ótima noite. Na manhã seguinte sua mãe narrou que ele desjejuou bem e ela colocou-o de novo no leito enquanto arrumava a casa. Mais tarde, ouviu um barulhinho atrás de si, olhou e viu que era Luís Justino. Tinha saltado do berço e estava andando, cambaleando com o passo curto e incerto como é normal em qualquer criança daquela idade.
Naquele mesmo dia o Dr. Dozous e o Dr. Lecrampe o examinaram, o primeiro colsultando suas anotações relativas ao caso. - "Examinei esta criança há três dias", disse. "Nenhuma melhora estão. Escrevi aqui: Paralisia da coxa. Dei-lhe doze horas de vida. Entretanto aqui está ele andando."
- Sim, sim, vá a Lourdes, dizia o Professor Pitrès. - Você verá lá ótimos exemplos de auto-sugestão, com bastante flores, velas, incenso, preces coletivas, etc.
Mas para Luís Justino Bouhogorts não havia flores, nem cantos, nem preces, nem incenso. Só alguns curiosos mais ou menos céticos e um médico observador, e este era completamente descrente. - E tinha dezoito meses de idade. É impossível que com dezoito meses se faça um ato de fé ou seja sujeito a auto-sugestão?
O caso do menino Bouhohorts calou fundo no Dr. Dozous. Foi uma das primeiras testemunhas médicas a presenciar um milagre em Lourdes e é considerado como o primeiro médico a trabalhar no estudo científico dos milagres.
Uma consequência interessante desta história. Luís Justino Bouhohorts, com a idade de setenta e sete anos, foi um dos convidados de honra na grande cerimônia da canonização de Santa Bernadete na cidade de Roma em 1933. Ele devia-lhe sua longa e sadia vida.
Fonte: Cranston, Ruth. O milagre de Lourdes. trad. Ricardo Azzi.
São Paulo, Ed. Melhoramentos, s.d., pp. 21-23

LOUIZ BOURIETTE - história de uma cura



Cura Instantânea do Olho de Louiz Bouriette [cura reconhecida n. 2]

No dia 2 de fevereiro de 1858, o velho Louiz Bouriette trabalhava como empreiteiro numa pedreira, na comarca da própria Lourdes. Acidentalmente, por uma explosão, perde o olho direiro. Perda total da substância do olho. Lesões profundas ao redor.
Sem dúvidas impressionado pelo surgimento da água que brotava no dia anterior, até hoje, junto à gruta de Massabielle, Louiz Bouriette estava convencido de que aquela água seria sinal de curas milagrosas e que Nossa Senhora alcançaria precisamente a recuperação do olho que ele havia perdido um mês antes. Pediu à filha que lhe trouxesse um pouco daquela água.
A filha trouxe-lhe àgua ainda turva. Louiz Bouriette com ajuda da filha banhou o local onde estivera seu olho direito... E o recuperou instantâneamente!
E a "marca", tão típica da griffe Lourdes: "Alias, a cura milagrosa não havia feito desaparecer (completamente) os sinais profundos, nem as cicatrizes (antes) terríveis ocasionadas pelo acidente, de modo que todos podiam verificar o milagre" naqueles restos ou "marca.


Fonte:
Os Milagres e a Ciência - Pe. Oscar G. Quevedo, SJ - pag. 340 - Edições Loyola - Ano 2000;
Lassere, Henri, Notre-Dame, Paris, 1869. Tradução de Melgar, Francisco, "Nuestra Señora de Lourdes", Madrid Librería de D. Miguel Olamendi, s.d.

JOHN TRAYNOR - história de uma cura



Nascido em Liverpool, Inglaterra, John Traynor foi ferido na cabeça durante a Primeira Guerra Mundial, por um estilhaço de granada. Ficou cinco semanas desacordado. Recuperado, meses depois voltou ao front. Na batalha de Dardanelles foi atingido por uma rajada de metralhadora enquanto participava de um ataque a baioneta. Recebeu um ferimento na cabeça outra vez e uma bala alojou-se em sua clavícula.
Resultado final: braço direito paralisado, músculos atrofiados, perna parcialmente paralisada e convulsões.
Muito embora tenha sido operado diversas vezes, continuou com seus problemas e foi aposentado com a totalidade de seu soldo militar, como permanentemente deficiente e dependente de ajuda para sair e para voltar ao leito.
Cinco anos após o término dos conflitos, ainda muito doente e debilitado, Traynor ouviu falar que a diocese de Liverpool estava organizando uma peregrinação a Lourdes. Resolveu participar, esperançoso. Durante a viagem de trem quase foi deixado em algum hospital, devido ao seu estado de saúde. Já em Lourdes, ficou localizado no Asilo local, onde conseguiu a ajuda de duas jovens protestantes de Liverpool, que prestavam assistência como voluntárias. Estava tão mal que uma senhora não só prontificou-se a escrever à sua esposa, informando que ele seria enterrado em Lourdes mesmo, como chegou a fazê-lo.
Durante sua estadia em Lourdes, por ocasião dessa peregrinação, banhou-se nove vezes nas águas trazidas da gruta de Massabielle para o Asilo em garrafas ou baldes, e era levado a todas as cerimônias nas quais os doentes eram agrupados. Face à sua debilitação geral, seus padioleiros estavam ficando relutantes em levá-lo, porque achavam que ele acabaria morrendo.
Na tarde de 25 de julho, quando estava mergulhado no banho, sentiu sua perna bastante agitada. Tentou ficar em pé, mas os padioleiros impediram. Vestiram-no rapidamente e levaram-no para a Praça do Rosário, para a bênção dos enfermos. Ele mesmo escreveu a respeito desses momentos:
“A procissão veio vindo tortuosa de volta para a igreja, como era costumeiro. No final dela estava o Arcebispo de Rheims, todo paramentado, levando o Santo Sacramento. Ele abençoou os dois à minha frente, chegou até mim, fez o sinal da cruz com o ostensório e continuou para outros. Ele mal havia passado quando notei uma grande mudança em mim. Meu braço direito, que estava morto desde 1915, ficou agitado violentamente. Tirei suas ataduras e me benzi pela primeira vez em anos. Não senti nenhuma dor súbita nem tive visão alguma. Simplesmente percebi que algo importante havia acontecido comigo. Tentei levantar-me de minha maca, mas meus padioleiros estavam me observando. Eles me seguraram e um médico e uma enfermeira deram-me um sedativo. Logo após a benção final, levaram-me de volta para o Asilo. Eu lhes disse que poderia andar e provei, dando sete passos. Fiquei muito cansado e com dores.”
Traynor continua:
“Haviam me colocado numa ala pequena no nível do chão. Como eu era considerado o caso de um notório criador de situações, colocaram padioleiros em turnos contínuos, a fim de impedir que eu fizesse qualquer loucura. O efeito dos calmantes foi passando durante a noite, mas eu não tinha um entendimento pleno de que estava curado durante a noite. O carrilhão da Basílica marcava as horas e meias horas, como de costume, durante a noite, tocando a Ave Maria de Lourdes. Logo cedo eu os ouvi tocando e me pareceu que eu havia adormecido no início do Ave. Pode ter sido uma questão de segundos, mas no último toque abri meus olhos e saltei da cama.......... Corri para a porta, empurrei para os lados os dois padioleiros e corri para o ar livre. ........Posso dizer que eu não havia caminhado desde 1915 e meu peso girava em torno de 52 quilos.”
“Já do lado de fora, corri para a Gruta, que ficava a uns 200 ou 300 metros do Asilo. O trecho era pedregulhado, então, e não asfaltado, e eu estava descalço. Os padioleiros corriam atrás de mim, mas não conseguiam me alcançar. Quando cheguei na gruta, fiquei de joelhos, ainda de pijamas, rezando para Nossa Senhora e agradecendo.”
Uma multidão juntou-se ao seu redor enquanto orava na gruta. Depois de mais ou menos 20 minutos de agradecimentos e orações, levantou-se e ficou surpreso com a multidão que havia atraído. Essa surpresa continuou em sua volta ao Asilo e em sua viagem de volta a Liverpool. Ele não se dava conta do que realmente havia acontecido. Só podia dizer que se sentia bem – muito bem... apesar de ter estado diversas vezes à porta da morte.
Durante a viagem de volta, o Arcebispo de Liverpool, que coordenava toda a peregrinação, foi visitá-lo em sua cabine de primeira classe (que ele nunca entendeu como fora possível nela estar alojado, pobre que era).
Pediu a bênção do Arcebispo, beijando seu anel, mas o prelado disse: “John, eu acho que eu é que deveria ser abençoado por você”.
John admirou-se da afirmação do prelado, sem entender bem seu real significado.
Ambos sentaram-se lado a lado. O Arcebispo, olhando-o bem nos olhos perguntou: “Você lembra como você estava doente? Você percebe que foi curado milagrosamente pela Virgem Santa?”
Num instante ele rememorou seus anos de sofrimentos, sua viagem quase fatídica para Lourdes e, ainda olhando os olhos do Arcebispo, começou a chorar, o que muito comoveu o sacerdote, que também começou a chorar. E lá ficaram os dois chorando como duas crianças, percebendo às claras o que havia acontecido.
Quando da chegada do trem a Liverpool, a imprensa já havia noticiado tudo a respeito de sua cura milagrosa. Sua esposa dirigiu-se ao guarda da estação, que já estava lotada, para poder entrar e informou quem era. “... Bom, disse o guarda, o que eu posso dizer é que esse Traynor deve ser um maometano, porque há umas setenta ou oitenta senhoras Traynor na plataforma”...
Depois de todo o estardalhaço de sua chegada de trem e passados os primeiros meses de fortalecimento físico e de ajustamento à nova situação, Traynor entrou para o negócio de carreto do carvão, não tendo problema algum para levantar sacos de até 100 quilos de material.
E em agradecimento a Nossa Senhora de Lourdes, deixou de fumar e manteve uma ida a Lourdes todo ano, atuando como padioleiro.

GABRIEL GARGAM - história de uma cura



Trata-se de um dos casos mais famosos dentre as milhares de pessoas curadas em Lourdes. Nascido em 1870, trabalhava nos correios, quando o trem no qual viajava colidiu com outro numa velocidade de 70 quilómetros por hora. Ele foi jogado a uma distância de quase 30 metros do trem e ficou desacordado na neve, inconsciente por sete horas, com uma lesão séria na espinha dorsal. Ficara paraplégico. Em sete meses de hospitalização parecia um esqueleto. Alimentava-se apenas por tubo a cada 24 horas. No processo indenizatório ficou muito claro que tinha uma lesão permanente.
Com a indenização conseguia pagar duas auxiliares de enfermagem para ajudá-lo dia e noite.
Só dois anos após o acidente, por insistência de sua mãe, concordou em ir a Lourdes. Estava tão enfraquecido que quase morreu durante a viagem de trem. No Santuário, ele seguiu todas as orientações dadas, foi mergulhado no tanque de águas consideradas milagrosas, mas sem efeito algum. Pior ainda, o esforço levou-o a desmaiar e lá foi deixado na maca como morto. Consternados, seus acompanhantes foram voltando para o hotel, para preparar seu funeral, mas no caminho, no sentido contrário pela pequena rua, vinha vindo a procissão do Santo Sacramento. O grupo colocou-se ao lado para a procissão passar, cobrindo o rosto do “falecido” com o lençol.
O sacerdote parou, voltou-se para o grupinho triste que cercava a maca com o corpo e deu-lhes uma benção com o ostensório.
Logo houve um movimento sob o lençol e o “corpo” ficou sentado. Para espanto geral, Gabriel Gargam disse, num tom convincente, que queria levantar-se. De fato, levantou-se, manteve-se de pé, deu alguns passos e disse que estava curado. Como estava vestido apenas com uma camisola hospitalar, foi levado de volta ao hotel onde vestiu-se e saiu andando, como se nada tivesse acontecido. Com quase dois anos sem alimentação sólida, sentou-se à mesa do refeitório do hotel e comeu uma refeição normal.
Foi em 20 de agosto de 1901 que Gargam foi examinado em Lourdes por seis médicos renomados da Comissão Médica e dado como curado.
Em agradecimento a Deus e à Imaculada Conceição, dedicou o resto de sua vida à assistência aos “inválidos” em Lourdes, como “padioleiro”.
Morreu com 83 anos de idade.

Milagres com a Procissão Eucarística e outros


No dia 22 de agosto de 1888 às 4 horas da tarde, realizou-se por primeira vez em Lourdes a procissão com a bênção dos enfermos com o Santíssimo Sacramento. Foi um sacerdote quem propôs esta iniciativa piedosa e desde então não foi nunca deixada. Nesse mesmo dia, quando os doentes foram abençoados com o Santíssimo diante da gruta das aparições da Virgem, Pedro Delanoy, que durante anos vinha sofrendo de ataraxia (doença que impede a coordenação dos movimentos voluntários e que conduz seguramente à morte), ficou curado instantaneamente quando o Ostensório passou. Era o primeiro Milagre Eucarístico que ocorria em Lourdes. Daquela dia em diante, nunca mais deixou-se de realizar a procissão Eucarística para os doentes.

















Catherine Latapie, primeiro milagre reconhecido de Lourdes [milagre reconhecido n. 1]















Anna Santaniello na época do milagre e 50 anos depois, em 2005 já com 94 anos. [milagre reconhecido n. 67]
















A senhora Marie Fabre ficou curada de uma forte dispepsia e de uma enterite nas membranas mucosas no momento em que o Santíssimo Sacramento passou. Essa situação a impedia de alimentar-se normalmente e lhe causava anemia. [milagre reconhecido n. 40]







Frei Léo Shwager ficou curado de uma gravíssima esclerose muscular no momento em que o Santíssimo Sacramento passou. [milagre reconhecido n.57]
















A senhorita Marie Bigot estava quase cega e surda, mas recuperou a vista e a audição no momento em que o Santíssimo Sacramento passou. [milagre reconhecido n. 59]


A senhorita Marie-Therése Canin ficou curada de uma tuberculose no momento em que o Santíssimo Sacramento passou. [milagre reconhecido n. 50]





















A senhorita Louise Jamain ficou de uma tuberculose pulmonar e intestinal no momento em que o Santíssimo Sacramento passou. [milagre reconhecido n. 44]




Alice Couteoul ficou curada de uma esclerose muscular no momento em que o Santíssimo Sacramento passou. [milagre reconhecido n. 58]


Sor Maria Margarida sarou de uma doença nos rins incurável quando o Santíssimo Sacramento passou. [milagre reconhecido n. 43]

MILAGRES DE LOURDES RECONHECIDOS PELA IGREJA

67 milagres de Lourdes foram proclamados oficialmente pela Igreja.
Mais de 7.200 curas foram qualificadas de inexplicáveis pela ciência. Os bispos decidirão se as reconhecem canonicamente como milagre.
Mais de 300 milhões de peregrinos visitaram Lourdes desde 1848.
Entre esses, 20 milhões de doentes.
Eis a lista dos 67.

Em 1º lugar o nome e local de residência; 2º) a doença curada; 3º) idade do doente e data da cura; 4º) diocese e data do reconhecimento do milagre.

1. Sra. Catherine Latapie, apelidada Chouat, de Loubajac (França). Paralisia havia 18 meses. Por volta de 38 anos, no dia 01-03-1858. Tarbes, 18-01-1862.

2. Sr. Louis Bouriette, de Lourdes (França). Perda da vista havia 20 anos. 54 anos em março de 1858. Tarbes, 18-01-1862.

3. Sra. Blaisette Cazenave, (nascida Soupène), de Lourdes (França). Oftalmia crônica havia 3 anos. Por volta de 50 anos, março de 1858. Tarbes, 18-01-1862.

4. Sr. Henri Busquet, de Nay (França). Adenite com úlcera havia 15 meses. Por volta de 15 anos, em 28-04-1858. Tarbes, 18-01-1862.

5. Sr. Justin Bouhort, de Lourdes (França). Atraso de desenvolvimento e consumição física. 2 anos em 06-07-1858. Tarbes, 18-01-1862.

6. Sra. Madeleine Rizan, de Nay (França). Hemiplegia do lado esquerdo havia 24 anos. 58 anos aproximadamente em 17-10-1858. Tarbes, 18-01-1862.

7. Srta. Marie Moreau, de Tartas (França). Perda da vista com lesões inflamatórias havia 10 meses. 17 anos aproximadamente em 09-11-1858. Tarbes, 18-01-1862.

8. Sr. Pierre de Rudder, de Jabbeke (Bélgica). Fratura exposta da perna esquerda com seudo-artrose. 52 anos em 07-04-1875. Bruges (Bélgica) 25-07-1908.

9. Srta. Joachime Dehant, de Gesves (Bélgica). Ulcera da perna direita com gangrena muito desenvolvida. 29 anos em 13-09-1878. Namur (Bélgica) 25-04-1908.

10. Srta. Elisa Seisson, de Rognonas (França). Hipertrofia do coração com edemas nos membros inferiores. 27 anos em 29-08-1882. Aix-en-Provence 02-07-1912.

11. Irmã Eugenia, (Marie Mabille), de Bernay (França). Abscesso com fístulas, flebite. 28 anos em 21-08-1883. Evreux 30-08-1908.

12. Irmã Julienne, (Aline Bruyère), de La Roque (França). Tuberculose pulmonar. 25 anos em 01-09-1889. Tulle 07-03-1912.

13. Irmã Joséphine-Marie, (Anne Jourdain), de Goincourt (França). Tuberculose pulmonar. 36 anos em 21-08-1890. Beauvais 10-10-1908.

14. Srta. Amélie Chagnon, (Religiosa do Sagrado Coração em 25-09-1894), de Poitiers (França). Osteoartrite tuberculosa no joelho e no pé. 17 anos em 21-08-1891. Tournai (Bélgica) 08-09-1910.

15. Srta. Clémentine Trouvé, (Irmã Agnès-Marie), de Rouille (França). Osteoperiostite do pé direito com flebite. 14 anos em 21-08-1891. Paris 06-06-1908.

16. Srta. Marie Lebranchu, (Sra. Wuiplier), de Paris (França). Tuberculose pulmonar. 35 anos em 20-08-1892. Paris 06-06-1908.

17. Srta. Marie Lemarchand, (Sra. Authier), de Caen (França). Tuberculose pulmonar com úlceras no rosto e na perna. 18 anos em 21-08-1892. Paris 06-06-1908.
18. Srta. Elise Lesage, de Bucquoy (França). Osteoartrite tuberculosa do joelho. 18 anos em 21-08-1892. Arras 04-02-1908.

19. Irmã Maria da Apresentação, (Sylvanie Delporte), de Lille (França). Gastrenterite crônica tuberculosa. 46 anos em 29-08-1892. Cambrai 15-08-1908.

20. Padre Cirette, de Beaumontel (França). Esclerose espinal. 46 anos em 31-08-1893. Evreux 11-02-1907.

21. Srta. Aurélie Huprelle, de Saint-Martin-le-Noeud (França). Tuberculose pulmonar aguda. 26 anos em 21-08-1895. Beauvais 01-05-1908.

22. Srta. Esther Brachmann, de Paris (França). Peritonite tuberculosa. 15 anos em 21-08-1896. Paris 06-06-1908.

23. Srta. Jeanne Tulasne, de Tours (França). Mal de Pott lombar. 20 anos em 08-09-1897. Tours 27-10-1907.

24. Srta. Clémentine Malot, de Gaudechart (França). Tuberculose pulmonar. 25 anos em 21-08-1898. Beauvais 01-11-1908.

25. Sra. Rose François, (nascida Labreuvoies), de Paris (França). Fleimão com fístulas no braço direito e enorme edema. 36 anos em 20-08-1899. Paris 06-06-1908.

26. Padre Salvador, de Rouelle (França). Peritonite tuberculosa. 38 anos em 25-06-1900. Rennes 01-07-1908.

27. Irmã Maximilien, (Religiosa da Esperança) de Marselha (França). Quisto no fígado e flebite na perna esquerda. 43 anos em 20-05-1901. Marselha 05-02-1908.
28. Srta. Marie Savoye, de Cateau-Cambresis (França). Doença mitral reumática descompensada. 24 anos em 20-09-1901. Cambrai 15-08-1908.

29. Sra. Johanna Bézenac, (nascida Dubos), de Saint-Laurent-des-Bâtons (França). Caquexia de origem desconhecida e impetigo. 28 anos em 08-08-1904. Périgueux 02-07-1908.

30. Irmã Saint-Hilaire, (Lucie Jupin), de Peyreleau (França) Tumor abdominal. 39 anos em 20-08-1904. Rodez 10-05-1908.

31. Irmã Sainte-Béatrix, (Rosalie Vildier), d’Evreux (França). Laringobronquite tuberculosa. 42 anos em 31-08-1904. Evreux 25-03-1908.

32. Srta. Marie-Thérèse Noblet, d’Avenay (França). Mal de Pott. 15 anos em 31-08-1905. Reims 11-02-1908.

33. Srta. Cécile Douville de Franssu, de Tournai (Bélgica). Peritonite tuberculosa. 19 anos em 21-09-1905. Versailles 08-12-1909.

34. Srta. Antonia Moulin, de Vienne (França). Fistula no fêmur direito e artrite no joelho. 30 anos em 10-08-1907. Grenoble 06-11-1910.

35. Srta. Marie Borel, de Mende (França). Seis fístulas nas regiões lombar e abdominal. 27 anos em 21/22-08-1907. Mende 04-06-1911.
36. Srta. Virginie Haudebourg, de Lons-le-Saulnier Cistite tuberculosa e nefrite. 22 anos em 17-05-1908. Saint-Claude 25-11-1912. (França).

37. Sra. Marie Biré, (nascida Lucas), de Sainte-Gemme-la-Plaine (França). Cegueira de origem cerebral e atrofia papilar bilateral. 41 anos em 05-08-1908. Luçon 30-07-1910.

38. Srta. Aimée Allope, de Vern (França). Numerosos abscessos tuberculosos, quatro dos quais com fístula. 37 anos em 28-05-1909. Angers 05-08-1910.

39. Srta. Juliette Orion, de Saint-Hilaire-de- Voust (França). Tuberculose pulmonar e da laringe. 24 anos em 22-07-1910. Luçon 18-10-1913.

40. Sra. Marie Fabre, de Montredon (França). Enterite, dispepsia e prolapso uterino. 32 anos em 26-09-1911. Cahors 08-09-1912.

41. Srta. Henriette Bressolles, de Nice (França). Mal de Pott, paraplégica. 28 anos aproximadamente em 03-07-1924. Nice 04-06-1957.

42. Srta. Brosse Lydia, de Saint-Raphaël (França). Fistulas tuberculosas múltiplas. 41 anos em 11-10-1930. Coutances 05-08-1958.

43. Irmã Marie-Marguerite, (Françoise Capitaine), de Rennes (França). Abscesso do rim esquerdo com edema e crises cardíacas. 64 anos em 22-01-1937. Rennes 20-05-1946.

44. Srta. Louise Jamain, (Sra. Maître), de Paris (França). Tuberculose pulmonar, intestinal e peritoneal. 22 anos em 01-04-1937. Paris 14-12-1951.

45. Sr. Francis Pascal, de Beaucaire (França). Cegueira e paralise dos membros inferiores. 3 anos 10 mois em 31-08-1938. Aix-en-Provence 31-05-1949.

46. Srta. Gabrielle Clauzel, d’Oran (Algérie). Espondite reumatica. 49 anos em 15-08-1943. Oran (Algeria) 18-03-1948.

47. Srta. Yvonne Fournier, de Limoges (França). Síndrome de Leriche. 22 anos em 19-08-1945. Paris 14-11-1959.

48. Sra. Rose Martin, (nascida Perona), de Nice (França). Câncer no colo do útero. 46 anos em 03-07-1947. Nice 17-03-1958.

49. Sra. Jeanne Gestas, (nascida Pelin), de Bègles (França). Perturbações dispépticas com acidentes pós-operatórios. 50 anos em 22-08-1947. Bordeaux 13-07-1952.

50. Srta. Marie-Thérèse Canin, de Marseille (França). Mal de Pott e peritonite tuberculosa. 37 anos em 09-10-1947. Marselha 06-06-1952.

51. Srta. Maddalena Carini, de San Remo (Itália). Peritonite tuberculose, tuberculose pleural, pulmonar e óssea com artrite coronária. 31 anos em 15-08-1948. Milão (Itália) 02-06-1960.

52. Srta. Jeanne Frétel, de Rennes (França). Péritonite tuberculosa. 34 anos em 08-10-1948. Rennes 20-11-1950.

53. Srta. Théa Angele, (Irmã Maria-Mercedes), de Tettnang (Alemanha). Esclerose em placas havia seis anos. 20 anos em 20-05-1950. Tarbes-Lourdes 28-06-1961.

54. Sr. Evasio Ganora, de Casale (Itália). Doença de Hodgkin. 37 anos em 02-06-1950. Casale (Itália) 31-05-1955.

55. Srta. Edeltraud Fulda, (Sra. Haidinger), de Viena (Áustria). Doença de Addison. 34 anos em 12-08-1950. Viena (Áustria) 18-05-1955.

56. Sr. Paul Pellegrin, de Toulon (França). Fístula pós-operatória de um abscesso do fígado. 52 anos em 03-10-1950. Fréjus-Toulon 08-12-1953.

57. Irmão Léo Schwager, de Friburgo (Suíça). Esclerose em placas havia cinco anos. 28 anos em 30-04-1952. Genebra (Lausanne) Friburgo (Suíça). 18-12-1960.

58. Sra. Alice Couteault, (nascida Gourdon), de Bouille-Loretz (França). Esclerose em placas havia três anos. 34 anos em 15-05-1952. Poitiers 16-07-1956.

59. Srta. Marie Bigot, de La Richardais (França). Cegueira, surdez e hemiplegia. 31 anos em 08-10-1953 e 32 anos em 10-10-1954. Rennes 15-08-1956.

60. Sra. Ginette Nouvel, (nascida Fabre), de Carmaux (França). Doença de Budd-Chiari. 26 anos em 21-09-1954. Albi 31-05-1963.

61. Srta. Elisa Aloi, (Sra. Varacalli), de Patti (Itália). Tuberculose osteoarticular com fístulas múltiplas. 27 anos em 05-06-1958. Messina (Itália) 26-05-1965.

62. Srta. Juliette Tamburini, de Marselha (França). Osteoperiostite femoral com fístula havia 10 anos. 22 anos em 17-07-1959. Marselha 11-05-1965.

63. Sr. Vittorio Micheli, de Scurelle (Itália). Sarcoma do quadril. 23 anos em 01-06-1963. Trento 26-05-1976.

64. Sr. Serge Perrin, de Lion d’Angers (França). Hemiplegia direita com lesões oculares, perturbações circulatórias. 41 anos em 01-05-1970. Angers 17-06-1978.

65. Srta. Delizia Cirolli, (Sra. Costa), de Paternò (Itália). Sarcoma de Ewing no joelho esquerdo. 12 anos em 24-12-1976. Catania (Itália) 28-06-1989.

66. Sr. Jean-Pierre Bély, de La Couronne (França). Esclerose em placas. 51 anos em 09-10-1987. Angoulême 9-02-1999.

67. Srta. Anna Santaniello, Salerno (Itália) Descompensação cardíaca resultante de reumatismo articular agudo 41 anos em 19-08-1952. Salerno (Itália) 21-09-2005 .

Curas milagrosas de Lourdes: depoimento de um especialista


Palco de grandes milagres ainda em nossos dias, a pequena cidade francesa de Lourdes, nos contrafortes dos Pireneus, foi o lugar escolhido por Nossa Senhora para aparecer, em 1858, à camponesa Santa Bernadete Soubirous. O que entende a Igreja Católica por cura milagrosa? Quais os critérios empregados para que se reconheça oficialmente uma cura?
A essas e outras questões responde um profundo conhecedor do assunto: o médico responsável do Bureau Médical de Lourdes, Dr. Patrick Theillier.
Formado pela Faculdade de Lille, no norte da França, especialista do aparelho digestivo, trabalhou na Cooperação Militar no Marrocos como Médico Responsável do Hospital de Targuist. Foi professor de cursos de Homeopatia na Universidade de Lille e é detentor de diplomas de Medicina do Trabalho Agrícola, Acupuntura e Homeopatia. Desde abril de 1998 é o médico permanente do Santuário de Lourdes, Presidente da Association Médical International de Lourdes (AMIL) e redator-chefe do Boletim da AMIL (trimestral de 10.000 assinantes, divulgado em cinco línguas). Autor de dois livros: Une nouvelle approche biomédicale des maladies chroniques: l’endothérapie multivalente (juntamente com o Doutor Michel Geffard), publicado em 2000 por F-X de Guilbert; e Et si on parlait des miracles..., editado em 2001 por Presses de la Renaissance, Paris, traduzido em Portugal com o título E se falássemos sobre... Milagres? pela editora Sopa de Letras.
O Dr. Theillier recebeu nosso enviado especial, Sr. Miguel da Costa Carvalho Vidigal, no próprio Consultório Médico de Lourdes, para esta entrevista, mediante a qual podemos constatar, uma vez mais, a ocorrência do sobrenatural através da água de Lourdes.

“Devo estudar, com todos os médicos que passam por Lourdes, uma causa da cura apresentada, que possa ser natural ou terapêutica. No total, devo dar a volta na questão, para depois propor tal cura á Igreja”

Catolicismo — O Sr., como responsável pelo Consultório Médico de Lourdes, poderia explicar aos leitores de Catolicismo o trabalho que realiza aqui?

Dr. Patrick TheillierInicialmente, o trabalho consiste em receber os peregrinos, os doentes, que supõem ter sido beneficiados por uma graça de cura por intercessão de Nossa Senhora de Lourdes. São eles próprios que o dizem e vêm testemunhar esse fato. Eu anoto e procuro investigar se existe a possibilidade de que essa cura seja reconhecida como milagrosa. É a primeira etapa. A segunda, nos casos que me parecem mais probatórios, inicio uma pesquisa médica, recolhendo todos os documentos anteriores à cura, que é o mais importante e o mais complicado; e os posteriores, para estar bem seguro de que ela realmente existiu. Devo estudar, com todos os médicos que passam por Lourdes, uma causa dessa cura que possa ser natural ou terapêutica. No total, devo dar a volta em torno da questão, para depois propor tal cura à Igreja, a fim de que Ela reconheça o milagre.
O trabalho em meu consultório, que coincide com o tempo entre a declaração voluntária e espontânea daquele que foi curado e o reconhecimento da Igreja, é ao mesmo tempo médico e científico.

Catolicismo — Quantos médicos fazem parte desse Consultório? Como ele funciona?

Dr. Patrick TheillierEu sou o único médico de plantão, mas todos os médicos que passam por Lourdes podem participar desse trabalho. Eu edito uma pequena revista, “Boletim da AMIL”, que é enviada a todos os médicos profissionais da saúde que desejam e aos inscritos nessa associação. Ela tem a tiragem de 10 mil exemplares, em cinco línguas, e é enviada a 75 países.


“É bom saber que o número de curas declaradas pela medicina é 100 vezes maior do que as reconhecidas pelas autoridades eclesiásticas. Sempre aparecem casos novos, e tenho sempre mais ou menos cinqüenta casos para estudar. São as curas que foram declaradas nos últimos 10 ou 12 anos e que me parecem sérias”

Catolicismo — Somente médicos católicos fazem parte?

Dr. Patrick TheillierQualquer médico pode entrar na associação, desde que esteja interessado e que não tenha mau espírito. Não pergunto a religião deles. Muitos médicos vêm aqui, evidentemente a grande maioria é católica, mas não obrigatoriamente praticantes. Eles vêm igualmente para fazer pesquisas ou simplesmente com uma finalidade humanitária para ajudar os doentes.

Catolicismo — Desde quando existe esse Consultório Médico?

Dr. Patrick TheillierO Consultório Médico de Lourdes existe desde os anos 1880, há mais de 120 anos! Passaram por aqui 12 médicos responsáveis. Eu sou o décimo segundo. Mas a história da medicina em Lourdes data das aparições. Foi o médico de Santa Bernadete, o Doutor Douzous, que assistiu a várias aparições e também a examinou, juntamente com outros médicos, para ver se ela era sã de corpo e espírito. Este consultório começou realmente nessa época, mas logo ocorreram algumas curas, já durante a época das aparições. O bispo da época, Dom Laurence, logo após o final das aparições, havia estabelecido uma primeira comissão médica, sob a égide do Dr. Vergès, professor de medicina termal em Montpellier, para fazer as primeiras constatações e o primeiro trabalho de reconhecimento. Deste modo, o Dr. Vergès estudou todos os primeiros casos durante os três primeiros anos. Isso levou Dom Laurence a reconhecer, em 18 de fevereiro de 1862, as aparições de Lourdes, baseando-se evidentemente no testemunho de Santa Bernadete, que era fundamental, mas também nas curas ocorridas desde então e já reconhecidas pela medicina. Foram estudados e transmitidos a Dom Laurence mais ou menos 40 casos. Ele reteve sete, que foram assim os primeiros sete milagres de Lourdes.

Catolicismo — Qual foi o primeiro milagre reconhecido oficialmente?

Dr. Patrick TheillierO primeiro milagre foi o de Catherine Latapie, que era uma mulher de 38 anos. Ela tinha dado à luz quatro filhos, dois já haviam morrido. Na noite de 28 de fevereiro para o dia 1º de março 1858, sentiu a necessidade de vir à Gruta de Massabielle [nome da gruta onde Nossa Senhora apareceu].
Dois anos antes, ela caíra de uma árvore e tinha uma paralisia cubital no braço direito, que a atrapalhava enormemente em suas atividades. Além disso, ela estava grávida. Apesar disso tudo, não hesitou em vir durante a noite para assistir à aparição que aconteceu naquele dia — a décima segunda. Quando tudo tinha terminado, ela subiu na gruta, pois naquela época era preciso escalar um pouco. E encontrou a fonte em que, três dias antes, Nossa Senhora tinha pedido a Santa Bernadette para lavar-se. A Sra. Latapie colocou a mão, e logo em seguida ficou com o uso completo do braço direito. Partindo de volta a pé para casa, a seis quilômetros da gruta, ela sentiu as dores do parto e deu à luz um filho que se chamou Jean-Baptiste. Mais tarde ele tornar-se-ia padre.


Catolicismo — Quantos milagres foram reconhecidos até hoje?

Dr. Patrick TheillierSessenta e seis milagres foram reconhecidos oficialmente pela Igreja. Seria bom explicar que é sempre o bispo da diocese, da qual vem a pessoa que foi curada, que reconhece o milagre. Portanto, não é o Papa nem o Vaticano, e tampouco o bispo da diocese de Tarbes-Lourdes. Pelo mundo inteiro, o bispo local é quem recebe o dossiê reconhecido pela medicina.
No entanto, é bom saber que o número de curas declaradas pela medicina é 100 vezes maior do que as reconhecidas pelas autoridades eclesiásticas. Apenas uma cura sobre 100 declarações, em média, é reconhecida de modo oficial.


“Enquanto médico católico, creio que em cada ser humano existe uma dimensão espiritual que é inerente à natureza humana. Considero que a cura física é um sinal da benevolência e da misericórdia de Deus em relação ao doente, ao pecador, mas que não acontece sem uma cura interior”

Catolicismo — Existem casos recentes?

Dr. Patrick TheillierClaro, sempre aparecem casos novos. Sempre tenho mais ou menos cinqüenta casos para estudar. São as curas que foram declaradas nos últimos 10, 12 anos, e que me parecem sérias. Necessito estudar alguns casos de câncer, por exemplo. Mas há uma dificuldade quanto ao câncer. É uma doença que obrigatoriamente é tratada logo. Assim, é preciso distinguir aquilo que poderia ser considerado um tratamento, na origem da cura. É um longo trabalho que necessita tempo, estudos. É preciso comparar com outras eventuais curas ocorridas no mundo. Dessa forma, novas declarações aparecem sempre.

Catolicismo — Quanto tempo pode levar para estudar e reconhecer um milagre?

Dr. Patrick TheillierNo mínimo cinco anos, já que não se fala de cura na medicina antes disso. Mas, em geral, de 10 a 12 anos. Recebo mais ou menos 35 declarações por ano, e destas, entre três e cinco serão objeto de uma pesquisa.

Catolicismo — Como o Consultório toma contato com as pessoas curadas?

Dr. Patrick TheillierNós aguardamos as solicitações. São as pessoas que tomam contato voluntariamente, seja por telefone, pessoalmente, ou então por correio postal ou eletrônico, tudo é possível. Há casos também de pessoas que foram curadas somente rezando a Nossa Senhora de Lourdes, sem nunca terem vindo orar diante da Gruta.

Catolicismo — Há um tipo de cura mais freqüente que outros?

Dr. Patrick TheillierNão. Existem todos os cenários possíveis, todos os tipos de doenças.

Catolicismo — Quando se vem a Lourdes, pode-se ler e escutar em vários lugares que “o milagre maior que se produz diante da Gruta, ou durante a peregrinação, é o milagre na alma, mais do que o do corpo”. Como o Sr., enquanto médico católico, sente isso?

Dr. Patrick TheillierEnquanto médico católico, creio que em cada ser humano existe uma dimensão espiritual que é inerente à sua natureza. Somos criados à imagem e semelhança de Deus, existe em nós uma fonte de vida eterna. Considero que a cura física é um sinal da benevolência e da misericórdia de Deus em relação ao doente, ao pecador, mas que não acontece sem uma cura interior.
No Evangelho, todas as curas são sempre acompanhadas de uma cura interior: “Vai, tua Fé te curou”; “A partir de agora não peques mais”, e assim por diante. É, portanto, cura que é sinal de um restabelecimento total da pessoa. Acredito que em Lourdes é assim. A cura física é a única visível, a única sobre a qual podemos nos debruçar, trabalhar, estudar e precisar, mas todas as curas físicas tocam a pessoa em toda a sua dimensão, seja ela física, psíquica ou espiritual. Posso dizer-lhe que uma pessoa que vive uma cura divina – pois a cura milagrosa é uma cura divina – não esquece nunca, representa algo muito forte na sua existência, há um antes e um depois, isso a toca profundamente.
Essas curas físicas são as únicas visíveis, mas elas devem ser vistas como um sinal das curas invisíveis que têm lugar aqui, e que são talvez mais numerosas e importantes: as curas do coração, da alma, a cura do pecado, a reconciliação com Deus, com os outros e consigo mesmo.
É preciso entender como uma cura interior, uma cura de todas as feridas que nós acumulamos durante nossa existência, e que naquele momento particular precisam ser tratadas e curadas. Assim, acredito que não se pode apenas fixar o lado “prodigioso” do milagre físico — freqüentemente maravilhoso, claro — mas procurar o sentido que está escondido atrás dele, que é a cura interior.

Catolicismo — As pessoas que foram curadas em Lourdes também têm a percepção disso?

Dr. Patrick TheillierNarro-lhe a história de um senhor de 67 anos, que veio aqui contar-me uma cura que ele obteve em 1963, exatamente há 40 anos, mas que ele nunca esqueceu.
Durante o serviço militar na Argélia, ele foi atingido por uma doença chamada sacro-coxalgia tuberculosa. Propuseram-lhe de vir a Lourdes, quando ele já estava havia vários meses no Hospital Militar de Bordeaux, repatriado por causa da doença. É preciso dizer que ele tinha sido declarado, pelo sistema de saúde francês, como 100% inválido, beneficiando-se com a aposentadoria correspondente a isso. Chegando aqui, sugeriram-lhe ir banhar-se nas águas de Lourdes. Ele aceitou, mas como havia um gesso de seu pescoço até os pés, impossível de ser retirado, foi apenas aplicada do lado de fora do gesso, no local dolorido, uma esponja umedecida.
Quando ele voltou ao hospital de Bordeaux e tiraram a radiografia, à qual ele se submetia a cada três semanas, todo mundo ficou surpreso de ver que a sacro-coxalgia estava completamente curada. Ele pôde voltar para casa, mas nunca esqueceu o milagre. Apesar de ter vivido no Haiti, no Chile e em Ruanda, a cada dois anos ele vinha em peregrinação agradecer a Nossa Senhora de Lourdes com toda sua família. Entretanto, ele nunca tinha vindo ao consultório. Só depois que ele me viu na televisão, veio aqui para descrever, com enorme emoção, a sua história. Foi obrigado diversas vezes a parar, de tanto que chorava ao contar aquilo que tinha vivido 40 anos antes, com pouco mais de 20 anos de idade.


Catolicismo — Alguma cura tocou-lhe especialmente?

Dr. Patrick TheillierPara ser sincero, todas as curas me tocaram. A que me sensibiliza mais especialmente é sempre a última. Por quê? Simplesmente porque todas as curas são maravilhosas. Pode-se sentir que as pessoas que foram curadas passaram por algo de sobrenatural, de muito forte. Elas são tocadas por alguma coisa que ultrapassa a natureza, é uma experiência fundadora em suas vidas. E tudo isso é muito emocionante, não há uma mais bela do que outra: todas elas o são.

Catolicismo — Houve casos de médicos que, vindo a Lourdes, se converteram após constatar um milagre?

Dr. Patrick TheillierSim, por exemplo o Doutor Aléxis Carrel [Prêmio Nobel de Medicina, 1912] que tinha acompanhado uma doente realmente grave, pois ela estava em estado de coma terminal de uma tuberculose generalizada. Ele assistiu, diante da Gruta, essa doente como que “ressuscitar”. Foi uma cura extraordinária, mas ele não podia admitir devido à sua formação positivista. Entretanto, no fim da vida, quando ele morreu, foi encontrado um manuscrito, no qual conta sua viagem a Lourdes e reconhece ter assistido a um milagre.

Catolicismo — O médico responsável por esse Consultório, na época do escritor Émile Zola, manteve uma polêmica com este, não é verdade?

Dr. Patrick TheillierCom efeito, Zola veio aqui no fim do século XIX, interessado em conhecer, pois falava-se muito de tudo o que se passava em Lourdes. O Dr. Boissarie, um dos meus predecessores, abriu todas as portas do Consultório Médico, e o escritor teve a possibilidade, durante o tempo em que esteve aqui, de assistir a duas verdadeiras curas milagrosas de duas jovens, de quem temos os registros em nosso Consultório até hoje.
Voltando a Paris, Zola escreveu seu livro sobre Lourdes, onde ele conta de um modo impecável esses dois milagres. O problema é que ele transformou a realidade, dizendo que as duas tiveram uma recaída e morreram de suas doenças, o que é absolutamente falso.
O Doutor Boissarie foi a Paris vê-lo, em uma conferência aberta ao público, e interpelou Zola, mostrando que ele tinha modificado a realidade. O escritor respondeu que ele era um romancista, que tinha o direito de colocar o que bem entendesse em seus livros...
Na verdade, as duas meninas foram realmente curadas de suas doenças, nunca tiveram recaídas e eram idosas quando morreram. Sempre é possível modificar a realidade, quando não se quer acreditar. É a liberdade humana...

Catolicismo — Em seu ponto de vista, qual é o sentido dessas curas?

Dr. Patrick TheillierAcredito que a cura é para todos, não somente reservada a alguns. Caso contrário, seria injusto; poder-se-ia perguntar: por que alguns se curam e outros não?
Somos todos chamados a ser curados, cedo ou tarde, das nossas feridas, dos nossos pecados. É preciso viver na esperança e entender que Deus nos ama, que Ele não está na origem do mal, da doença ou da invalidez. Caso contrário, viveremos como revoltados. É preciso entender que Ele sofreu e deu a sua vida por nós e nos salvou. O mais importante é a saúde espiritual, é preciso ver essas curas físicas dentro de uma perspectiva de eternidade, como uma antecipação da ressurreição do nosso corpo.


Revista Catolicismo de julho/2003