quarta-feira, 15 de setembro de 2010

CARLOS McDONALD - um médico americano examina uma cura de Lourdes




Quando se dá uma cura, o médico da peregrinação, ou às vezes um padioleiro, leva o paciente o mais cedo possível à Corporação. Um exame preliminar é feito e no dia seguinte um mais completo quando foi possível reunir todos os médicos.
Até mesmo os mais insensíveis e céticos sentem um pouco da emoção e excitação que é geral na sala quando um paciente curado entra, seguido por uma sorridente enfermeira ou parente, e um grupo de médicos e professores de vários países, todos qui vive para verem pessoalmente este extraordinário fenômeno: uma cura milagrosa de Lourdes!
Frequentemente o Presidente convida um médico visitante para presidir o exame.
Um médico americano, Dr. Smiley Blanton, dirigiu o exame de uma das mais famosas curas - Carlos McDonald. Trinta e dois médicos reuniram-se na sede da Corporação para estudar este caso notável. Mais tarde, o Dr. Blanton leu uma exposição da cura numa reuinião das Associações Psicanalítica e Psoquiátrica Americanas. Aqui está o resumo do caso, tirado do relato e da própria história do Sr. McDonald.
Carlos McDonald nasceu em Dublim em 12 de agosto de 1905. Teve boa saúde na infância. Seus irmãos e irmãs também eram fortes. Aos dezesseis anos deixou a escola para trabalhar na carpintaria de seu pai. Gostava de esportes e era ótimo atleta. Casou-se com dezenove anos e tem agora três filhas, todas com boa saúde.
Sua doença principiou em 1924. Tornou-se cansado e irritado e teve de abandonar o trabalho por várias semanas. Retornou ao trabalho em novembro mas continuou perdendo peso. Começou a ter então suores à noite e sua tosse piorou tanto que ele consultou o Dr. Young de Sandymount em Dublim. Achou-se o bacilo da tuberculose em seu esputo e os raios X mostraram tuberculose adiantada em seus pulmões.
McDonald foi enviado a um sanatório, onde ficou cinco semanas. Entrou então em um hospital em Dublim (abril de 1925). Lá teve duas hemorragias dos pulmões. Perdeu treze quilos em seis meses.
No dia 3 de julho de 1925, desobedecendo as ordens médicas, embarcou para Joanesburgo na África do Sul onde residiu seis meses. Sua tosse passou, ele ganhou peso e forças. Arranjou emprego em uma mina de ouro, contudo, trabalhando sempre na superfície. Durante cinco anos sua saúde permaneceu boa. No começo de 1931, depois de uma vigorosa partida de futebol, sentiu dor nos quadris e pescoço. Logo depois a dor começou no lado esquerdo e na parte inferior das costas, especialmente quando andava de motocicleta. E a situação piorou tanto que ele não podia brecar a motocicleta sem sentir uma aguda dor na parte inferior das costas. Em abril de 1931 seu médico, depois de examinar sua espinha nos raios X, constatou tuberculose na décima segunda vértebra torácica.
McDonald foi posto num colete de aço que o envolvia dos ombros aos quadris, mas se abria para que pudesse tomar banho de sol.
Depois de três meses não apresentou melhora. O médico sugeriu uma operação de enxerto no osso. McDonald negou-se a fazê-la e voltou para Dublim. Na viagem abandonou o colete por achá-lo muito quente e cansativo. De volta ao lar, tentou trabalhar, mas as dores no lado esquerdo e nas costas eram tão fortes que ele teve de parar. Durante três meses descansou. Entrementes não teve nenhum cuidado médico.
Em junho de 1932, foi examinado pelo Dr. Lane de Dublim que diagnosticou tuberculose na vértebra e o enviou ao Dr. Lynch para verificar se o estado de seus pulmões permitiria uma operação. O Dr. Lynch disse que não; os pulmões estavam ruins. Mais uma vez o jovem foi posto no colete de aço.
Em setembro de 1932, um grande abcesso surgiu na região lombar direita e outro, mais tarde, no ombro esquerdo. O abcesso do ombro foi aspirado, mas o da região lombar teve de ser aberto, porque o pus era muito grosso. Ambos os abcessos lançaram pus livremente durante a primavera de 1933.
Em junho de 1935, McDonald piorou. Desmaiou durante um violento acesso de vômito. Uma semana mais tarde seu corpo estava muito inchado. Consultou ainda outro médico, Dr. O'Connell de Dublim, que diagnosticou nefrite aguda (inflamação dos rins). Foi levado para o Hospital Meath onde ficou durante treze semanas, outra vez sob os cuidados do Dr. Lane e também do Dr. Boxwell. O exame da urina revelou albumina, células sanguineas, corpos granulosos e hialinos. Qualquer movimento provocava terrível dor principalmente nas costas, e, com frequência, tinha que lhe dar sedativos.
Em novembro de 1936, o Dr. Boxwell disse que o paciente deveria ser enviado a um hospital de casos irremediáveis. O alegre nome desta instituição era "Hospital para os Agonizantes". McDonald não aceitou e voltou para sua casa. Chamou novamente o Dr. O'Connell. O médico visitou-o semanalmente por três meses. A família vivia de uma pequena loja de fumo que a Senhora McDonald instalou numa parte da casa.
O médico asseverou à Senhora McDonald que muito pouco poderia fazer por seu marido, e que o considerava um caso perdido. Finalmente em junho de 1936, disse a seu paciente: McDonald, sinto muito - não posso fazer mais nada por você.
Foi então que McDonad pensou em Lourdes. Tinha um forte pressentimento de que seria curado lá. Afirmava constantemente aos amigos que, se fosse a Lourdes, voltaria andando. Insistiu com sua mulher que pusesse na mala um terno e roupas nas quais deveria voltar como uma pessoa sã.
Ele foi com a Peregrinação de Jovens Católicos da Irlanda que se realizou de 4 a 10 de setembro de 1936. A viagem teve que ser feita numa padiola. Permaneci inválido por mais de quatro anos, diz McDonald, e durante quinze meses antes de vir para Lourdes tive que fica de cama. Duas vezes recebi a extrema-unção e foi-me dito por mais de um médico que para o meu caso não havia recurso. Era incapaz de sentar-me por mais de quatro minutos para que me trocassem os curativos. A dor quase me levou à loucura algumas vezes. Quando a ambulância veio a fim de levar-me para o trem, fui colocado em um lençol e com o máximo cuidado levado da cama para a padiola e desta à ambulância.
Para o ingresso na Peregrinação ele tinha um certificado do Dr. O'Connell atestando que estava com a doença de Pott na décima segunda vértebra dorsal, nefrite, arttrite tuberculosa no ombro esquerdo. Algumas quinze chapas de raios X do Hospital Meath estabeleciam o diagnóstico. O Dr. Hannigan era encarregado da peregrinação que incluía doze médicos.
McDonald deixou Dublim rumo a Lourdes na noite de 3 de setembro de 1936. Suas feridas foram pensadas em 4 de setembro pela enfermeira Falvey no trem de peregrinação. Ela constatou que havia muito pus supurando das chagas em suas costas e ombro.
Chegou a Lourdes em um sábado, 5 de setembro, e suas feridas foram pensadas aquele dia pelo Dr. Hannigan. Neste curativo o médico notou que McDonald tinha duas grandes chagas (expelindo pus) na região lombar, uma grande chaga embaixo na parte externa da clavícula e outrs duas no ombro esquerdo.
Na manhã de 6 de setembro, foi levado para os banhos e cuidadosamente descido nas águas do tanque por seis padioleiros, deitado numa rede apropriada para este fim.
Os curativos foram retirados e quando ele saiu, outros foram feitos. Deste modo as águas de Lourdes tocaram diretamente suas feridas e a lavaram. Ele estava completamente gelado por causa do banho e não se sentia melhor.
No dia 7 de setembro foi banhado outra vez. Sentia-se atordoado e gelado mas depois que foi vestido e levado da piscina à Gruta onde havia uma cerimônia religiosa, afirmou que começou a sentir "os primeiros indícios de saúde".
- Deve-se lembrar, diz o Dr, Blanton, que durante quinze meses o paciente esteve de cama, tão fraco que tinha que usar a comadre, incapaz de mover os quadris ou ombros sem grande dor. Mas agora, numa padiola em frente à Gruta, ele experimentava mover um pouco o braço. Não havia dor. Soltou as correias de seu colete de aço e levantou os ombros do travesseiro, sem dor. Pensou que talvez não sentisse dor porque o choque do banho lhe tinha desviado a mente da dor. Esperou uma hora e moveu quadris outra vez. Novamente nenhuma dor.
- Minhas esperanças concretizaram-se, disse McDonald jubilante. A Santíssima Virgem curou-me. Acrescentou que na Gruta sentiu-se tão bem como nunca em sua vida. Sabia que podia levantar-se e andar. Os padioleiros e enfermeiras impediram.
Passou todo aquele dia ao ar livre em frente à Gruta. De volta ao hospital à tarde disse ao médico que se levantaria na manhã seguinte. Foi-lhe proibido.
Na manhã seguinte (8 de setembro), quando o médico e enfermeira saíram do quarto, McDonald levantou-se e andou até ao pé da cama, a primeira vez que ficava em pé após quinze meses. Afirmou: - Meus joelhos cederiam e eu cairia no chão se não me tivesse segurado à cama. Vestiu-se sem auxílio de ninguém e andou sem dor.
Aquele dia foi levado à Gruta, mas não como anteriormente em uma padiola mas numa cadeira de inválido. - Fiquei na cadeira até terminada a bênção dos doentes à tarde. Deixei então a cadeira... e subi as escadas e entrei na Igreja do Rosário onde fui capaz de fazer uma completa genuflexão e saí da igreja para a Praça onde sentei em minha cadeira para a fotografia oficial dos peregrinos.
Este era o homem que por mais de um ano esteve impossibilitado de fazer o menor movimento sem sentir dores atrozes, ou levantar sua cabeça ou sentar-se por mais do que quatro minutos de uma vez.
- Aquela noite, diz McDonald, disse ao médico que ele podia desmontar minha padiola e colocá-la no vagão de bagagem, porque eu viajaria para o lar como passageiro comum. Na quarta-feira cedo vesti-me sem qualquer auxílio e fui levado para os banhos pela terceira vez, entrei, despi-me e vesti-me sem qualquer ajutório. Isto eu não fazia há mais de três anos.
Deixei Lourdes numa quarta-feira à noite. Nossa viagem de regresso foi muito alegre. Chegando à estaçãode Dublim tive o máximo prazer em dispensar a ambulância que me fora tão necessária uma semana antes. Chamei um táxi, cumprindo assim minha promessa de voltar andando.
Quando McDonald deixou Lourdes, sua cura não era ainda completa, segundo o relatório do Dr. Vallet, suas feridas não estavam completamente fechadas e expeliam pus. Nessas condições ele não foi levado para a Corporação para exame. Foi no trem em que regressava, antes de chegar a Paris, que suas feridas desapareceram. O Dr. Hannigan relatou assim:
Eu certifico, como médico encarregado dos doentes da Peregrinação Irlandesa, que examinei o Sr. Carlos McDonald. Seu estado era o seguinte: Três fístulas na região lombar, todas expelindo pus. Durante as viagens a Lourdes de ida e volta, eu pessoalmente fiz-lhe os curativos. Pouco antes de desaparecerem as feridas saía ainda muito pus e o paciente tinha que ficar em sua maca.
Depois do segundo banho houve grande melhora e eu autorizei-o a tentar andar, o que ele conseguiu com facilidade. Na viagem de volta seus curativos foram feitos por enfermeiras em Paris. Apenas uns humores saíam de uma de suas fístulas lombares. Tudo o mais estava curado.
O Dr. Hannigan escreveu outra vez em 29 de agosto de 1937:
Vi o Sr. McDonald duas vezes depois de seu retorno de Lourdes. Posso agora declarar definitivamente que não há mais vestígios de sua antiga moléstia. O Sr. Carlos McDonald está um homem normal, ativo, saudável, que pode trabalhar o dia inteiro sem perigo e sem fadiga excessiva. (Ele agora se dedica a negócios de seguro). Todas suas antigas fístulas sararam completamente. Estou satisfeito por poder pessoalmente atestar essa cura, pois quando o vi pela primeira vez achei que era um caso sem esperanças. (Assinado, Ch Hannigan).
Do Dr. Young, 49 Tritonville Road, Sandymount, Dublim, veio este certificado:
Certifico que em 1934 examinei o Sr. McDonald e o achei sofrendo de lesão tuberculosa do ombro esquerdo e um abcesso lombar. Recentemente examinei o Sr. McDonald e não achei mais sinais de sua doença e considero-o completamente curado.
Do Dr. C. J. O'Connell, 35 Fairview, Strand, Dublim.
Certifico que no dia primeiro de setembro de 1937 examinei o Sr. Carlos McDonald e achei os abcessos, dois na região lombar e três perto dos ombros, completamente curados. A urina não contém sangue ou albumina. Na minha primeira visita em 1934 este paciente estava sofrendo de nefrite aguda e tuberculose adiantada na vértebra dorsal. Foi enviado para o Hospital Meath onde teve o tratamento do Dr. Lane e ficou treze semanas, deixando o hospital por vontade própria. Visistando-o no dia seguinte em sua própria casa, a urina continha albumina e pus. Fiz o certificado para a Peregrinação e considerei o caso desse homem incurável.
O diagnóstico feito pelo Dr. O'Connell no certificado de Peregrinação é o seguinte: Mal de Pott, cárie, nefrite, omoplata tuberculosa.
O relatório de raios X feito em 9 de setembro de 1937 pelo Dr. R. A. Ruyert do Hospital Santo Kevin, em Dublim, é o seguinte:
A junta do ombro esquerdo mostra claramente sinais de antiga lesão na junta entre o úmero e omoplata que teve progresso acentuado. O mal não existe mais, a cura resultou por anquilose. O rim esquerdo apresenta foco de doença agora completamente cicatrizada. Um exame por injeção de uroselectan mostra no que concerne aos rinas que o rim esquerdo está hipertrofiado, a pelve dilatada e sua conformação mudada. Este rim está entretanto funcionando normalmente. O rim direito está um pouco dilatado mas trabalha normalmente. Ambos pulmões apresentam lesões tuberculosas, agora curadas. A pleura está um pouco inchada na parte superior esquerda. É dificil dizer se a doença está curada mas o certo é que está inativa. (Assinado, Dr. Ruyert).
Logo que McDonald retornou a Dublim começou a andar meia milha por dia. Após duas semanas conseguiu andar várias milhas. Em dezembro (1936) começou a andar de bicicleta. No dia 16 de setembro de 1937 voltou a Lourdes, onde o Dr. Blanton e outros médicos o examinaram no dia 17 de setembro.
Trinta e dois médicos estavam presentes na Corporação durante o exame de McDonald. Suas conclusões finais estão neste relatório:
Carlos McDonald sofria de: 1) tuberculose no ombro esquerdo com três fístulas; 2) tuberculose na espinha dorsal com duas fístulas; 3) nefrite crônica caracterizada pela presença de pus, sangue, albumina. Estes três males estavam muito adiantados por ocasião de sua peregrinação à Lourdes, as cinco fístulas expelindo pus.
Foram abruptamente cortados em sua evolução em 7 de setembro. Uma cura imediata depois de uma banho na piscina foi seguida pela cicratização definitiva das cinco fístulas em menos de quatro dias e do retorno da normal secreção urinária livre dos germes infecciosos, cessação da dor, retorno de movimentos parciais do braço esquerdo e região lombar.
Esta cura obtida sem uso de medicamentos ou qualquer agente terapêutico está confirmada por um ano de excelente saúde e trabalho... Nenhuma explicação médica, nas condições atuais dessas afecções tuberculosas, julgadas incuráveis pelos especialistas chamados para tratá-lo, e cujo começo se deu com infecção geral, depois com localizações ósseas. Esta cura é considerada inexplicável pelas leis biológicas.
As assinaturas de trinta e dois médicos terminam este relatório.
Na sua exposição para seus colegas americanos o Dr. Blanton concluiu:
Resumindo, temos um homem que evidentemente estava atacado de tuberculose nos pulmões. Tinha também uma infecção na décima segunda vértebra torácica que a destruiu, e uma infecção do ombro que quase inutilizou a estrutura óssea da junta. De cama quinze meses, precisava ter suas feridas medicadas duas vezes por dia. Em seguida ao segundo banho na piscina conseguiu mover-se sem dor, chegou mesmo a andar nesse dia e dentro de três semanas podia andar várias milhas por dia; suas chagas foram curadas praticamente em duas semanas.
Qual a explicação desta cura? - Porque esta é uma cura da qual eu mesmo tive de me convencer. Os relatórios reafirmam esta conclusão e eles foram feitos por médicos insignes. Além disso, este não é um caso isolado mas um dos dez ou doze aproximadamente que ocorrem por ano em Lourdes, dos quais os relatórios parecem perfeitos e honestos.
Devemos por de lado como infundadas as acusações de que esses casos são fingidos ou histórias de charlatões. Parece haver neste santuário uma grande aceleração no processo de cura, desaparecimento de sintomas e sensação de saúde. A percentagem dessas curas é muito grande para ser considerada como coincidência, nem os detalhes das curas estão de acordo com os processos de convalecença com que estamos acostumados. Mesmo os curados de doenças de sintomas coincidentes em nossos hospitais não se levantam e andam sem dor no espaço de dois ou três dias, após quinze meses de cama com dores contínuas.
A razão das curas parece estar em algum aspecto relacionado com a psicologia. É minha opinião que neste caso e em casos semelhantes em Lourdes há uma aceleração no processo de cura, devida à emoção motivada pelo traspasse para a toda poderosa, querida Virgem Maria...
Sinto que estamos justificados, com o que vimos em Lourdes, afirmando nossa crença experimental que casos destinados à morte não somente foram suspensos mas retrocederam e a libido deste modo liberta favoreceu o indivíduo na restauração da saúde. Acredito que algo acontece e que é, como o Dr. Vallet afirmou, fora das leis da natureza (*).
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(*) Carlos McDonald goza hoje de ótima saúde, um homem robusto de quarenta e nove anos. Visita Lourdes frequentemente, e esteve lá com sua filha pouco antes de minha peregrinação.



Cranston, Ruth. O Milagre de Lourdes. São Paulo: Melhoramentos, s.d. pp. 69-76

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