quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

MARIA LUÍSA ARNAUD


Outro caso célebre foi o de Maria Luísa Arnaud, que foi curada instantaneamente de disseminada esclerose, quando jazia em sua padiola em frente à Gruta. Esta moléstia, geralmente considerada incurável, é ocasionada por algumas inflamações que ocorrem em diferentes partes do cérebro ou corda espinal. Geralmente começa com fraqueza nos membro, em seguida incoordenação muscular e vista vacilante. Essas inflamações espalham-se e a moléstia é quase sempre fatal.
Com a Senhorita Arnaud os primeiros sintomas aparaceram com dores nas pernas, quedas frequentes sem razão aparente, violentas dores de cabeça e impossibilidade de usar devidamente as mãos. Não podia costurar, nem tricotar, sua escrita tornou-se quase indecifrável, a leitura cada vez mais difícil.
Dois médicos, Dr. Boudet e Dr. Rimbaud de Montpellier (cidade onde morava), examinaram-na e o diagnóstico foi idêntico: esclerose disseminada. Perdeu peso rapidamente, podia andar somente quando amparada por alguém, tinha frequentes ataques de vertigens e sua visão estava muito embaralhada. Nenhum tratamento parecia ajudar e julgava-se a morte certa.
Católica devota e sabendo que do ponto de vista humano seu caso era desesperador, decidiu ingressar na Peregrinação Nacional Francesa a Lourdes. O Dr. Boudet fez seu certificado. Ela viajou em uma padiola, atendida por uma enfermeira a todo momento. Quando chegou a Lourdes, estava tão mal que no segundo dia foi levada só à procissão da tarde! O fato de ter sido transportada em uma padiola aumentou sua tontura. Parecia estar próxima do fim.
Vinte e três de agosto era o aniversário da morte do irmão. Pediu para ser levada à Gruta aquela manhã, querendo ofertar sua Comunhão para ele. Quando o padre subiu ao púlpito, pediu que os doentes procurassem esquecer seus males por alguns momentos e orassem pelos mortos, a Senhorita Arnaud espantou-se com a coincidência e começou a rezar ardorosamente. Após receber a Comunhão chorou baixinho pensando no irmão a quem tanto estimara e, como relata, "completamente esquecida de mim e de minha doença".
Virando a cabeça no travesseiro para esconder as lágrimas, "fiquei surpresa (disse) de sentir distintamente a forma do meu chinelo direito pousado no meu pé esquerdo - porque as sensações tinham sido completamente embotadas pela minha doença. Abri os olhos. Em minha frente tudo estava firme (onde antes tudo parecia oscilar e tremular). Podia ver perfeitamente.
Tudo isso aconteceu como um relâmpago, quando a Sagrada Hóstia estava ainda em minha língua.
Com os dedos podia rezar o rosário; sentei-me sem cair para a direita, como costumava acontecer.
As sensações voltaram para as minhas pernas e os membros agora pareciam obedecer à minha vontade...
Às doze horas estava de volta ao hospital. Uma das senhoras perguntou-me: - Bem, como vai passando? - Curada eu creio, respondi. A padiola foi descida e eu levantei e andei... Às duas horas fui levada à Corporação Médica. Aquela mesma noite dormi um sono só, calma e tranquilamente. Não tinha uma noite assim há vinte meses.
Na tarde seguinte ela iniciou a viagem de regresso a Montpellier. Passou a maior parte da noite no trem, de pé, ajudando os doentes.
Na Corporação os médicos não acharam nada anormal nela, exceto uma ausência de reflexos abdominais e exageros dos reflexos do joelho e tornozelo. Seus olhos estavam perfeitamente normais. Entretanto com a usual cautela a Corporação não declarou a cura antes de provada pelo tempo.
No ano seguinte a Senhorita Arnaud voltou a Lourdes trazendo consigo outro certificado do Dr. Boudet em que ele dizia: "Tenho visto a Senhorita Arnaud várias vezes desde seu regresso de Lourdes. Atualmente não há nem vertigens ou perda de consciência, nem dor de cabeça ou dor nas costas, nem contrações ou tremores, nem nistagmos (oscilação do globo ocular). Escrita fácil e normal, nenhuma dificuldade coms os esfincteres, o reflexo de Babinski está normal. Os reflexos do tornozelo e do joelho permanecem avivados - o único sinal remanescente da antiga doença".
Outra carta recebida do Dr. Boudet vários anos depois afirmava que apesar de muitas dificuldades na família, a Senhorita Arnaud pôde desde sua cura há oito anos levar uma vida ativa. Não houve qualquer retorno dos sintomas anteriores. Sua escrita pouco antes e logo depois de sua cura serve de interessante ilustração para as observações de um médico.


Cranston, Ruth. O Milagre de Lourdes. S. Paulo: Melhoramentos, s.d., pp. 103-105

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

ELISABETE DELOT



Não é de admirar que Lourdes seja prova difícil quando, por exemplo, o médico comum presencia um caso como aquele de Elisabete Delot, curada instantaneamente de cancer.
A Senhorita Delot era professora em um colégio feminino em Bolonha.
Quando tinha perto de cinquenta anos ficou seriamente doente - tão doente que teve de abandonar seu trabalho e internar-se num hospital. Raios X e testes clínicos revelaram o terrível fato de que tinha câncer no estômago. Além disso testes de bismuto indicavam que entre o estômago e o começo do instestino havia um obstáculo. Isto significava morte pela fome, a não ser que a cirurgia pudesse efetuar a passagem da comida. Quando o cirurgião que fez a operação, Dr. Houzel de Bolonha, viu as condições, informou ao médico que atendia a Senhorita Delot, Dr. Wallois, que o tamanho do tumor era tal que não podia ser removido. Tudo o que podia fazer era uma abertura do estômago para o intestino que permitiria a passagem da comida para a região disgestiva inferior.
Isto foi feito e no princípio parecia haver uma pequena melhora, mas após três meses a moléstia piorou. O câncer originário no estômago espalhou-se pelo fígado e a própria abertura feita na operação foi invadida por células cancerosas. Em julho a obstrução era completa. Alimentar-se tornou-se coisa impossível para a paciente - até os líquidos eram vomitados. Os médicos concordaram em que não havia nada para o futuro senão o martírio da fome e sede constante até a morte. A Senhorita Delot estava perdida.
Neste estado desesperador ela juntou-se à Peregrinação de Arras a Lourdes, chegando ao santuário na manhã de 30 de julho (de 1926). Estava tão exausta da viagem que tiveram de pô-la nas águas da piscina com extraordinárias precauções.
Sua primeira sensaão foi de uma dor tão intensa que gritou com todas as forças para que a morte a livrasse. Sentiu "uma terrível queimadura e punhalada" no estômago e intestino - como se, contou mais tarde, a estivessem segurando embaixo de um martelo diabólico.
Mas quando as enfermeiras a auxiliaram a sair da água, a agonia cedeu lugar a uma estranha sensação de bem-estar. Uma estranha sensação de calma e saúde a dominou, bem como um inesperado vigor. Vestiu-se sem ajuda. Entrementes sentiu forte apetite - desconhecido por ela há muito tempo. De volta à hospedaria, tomou um pouco de sopa e purê vegetal, sem sentir qualquer indisposição. Aquela noite comeu um pouco de carne e não sentiu nada a não ser uma renovação de forças. No dia seguinte a repetição da mesma dieta confirmou a cura. O intestino funcionava normalmente.
Examinando-a na Corporação Médica, os médicos observaram a flexibilidade do estômago e a parte que tinha sido operada.
Verificaram que o fígado estava voltando à forma normal. Após retornar a Bolonha, seu médico particular relatou que "a Senhorita Delot alimenta-se como os outros - carne, vegetais, tudo, e que não sente cansaço e todos os seus órgãos estão em ótimo estado". Novos exames de raios X feitos três semanas após a cura revelaram um completo reverso da sua condição anterior. Oito meses mais tarde o Dr. Houzel comunicava à Corporação que a Senhorita Delot, "operada, por mim, de um tumor maligno no estômago, apresenta hoje todas as características de perfeita saúde. Tem hoje uma vida muito ativa, voltou para o seu trabalho na escola, na base de tempo integral".
No ano seguinte ela voltou a Lourdes e foi novamente examinada na Corporação. Após cautelosa investigação, dezoito médicos deram a seguinte opinião unânime:
Na ocasião de sua primeira vinda a Lourdes, a Senhorita Delot sofria de: 1) um tumor maligno no piloro com extensão à boca operada da passagem gastrintestinal; 2) extensão da moléstia para o fígado. Houve uma cura incontestável, provada pelo desaparecimento do tumor, o restabelecimento de completa saúde (aumento de peso de 8 quilos), o perfeito funcionamento do piloro, fígado, intestino e a prova do tempo. Esta cura repentina não pode ser atribuída a processos naturais. Vai além dos limites de nossos conhecimentos.
Desde sua cura a Senhorita Delot tem gozado ótima saúde.
Nunca deixou de ser excelente, escreve, desde o momento em que saí da piscina cheia de vida, onde poucos minutos antes me mergulharam agonizante. Desde esse dia esqueci-me completamente do que é sofrer do estômago. Digiro qualquer alimento.
Aqui está uma cura que não pode ser atribuída a erro de diagnótico, ou auto-sugestão, ou qualquer das clássicas explicações do ceticismo médico.


Cranston, Ruth. O Milagre de Lourdes. São Paulo: Melhoramentos, s.d. pp. 101-103

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

CARLOS McDONALD - um médico americano examina uma cura de Lourdes




Quando se dá uma cura, o médico da peregrinação, ou às vezes um padioleiro, leva o paciente o mais cedo possível à Corporação. Um exame preliminar é feito e no dia seguinte um mais completo quando foi possível reunir todos os médicos.
Até mesmo os mais insensíveis e céticos sentem um pouco da emoção e excitação que é geral na sala quando um paciente curado entra, seguido por uma sorridente enfermeira ou parente, e um grupo de médicos e professores de vários países, todos qui vive para verem pessoalmente este extraordinário fenômeno: uma cura milagrosa de Lourdes!
Frequentemente o Presidente convida um médico visitante para presidir o exame.
Um médico americano, Dr. Smiley Blanton, dirigiu o exame de uma das mais famosas curas - Carlos McDonald. Trinta e dois médicos reuniram-se na sede da Corporação para estudar este caso notável. Mais tarde, o Dr. Blanton leu uma exposição da cura numa reuinião das Associações Psicanalítica e Psoquiátrica Americanas. Aqui está o resumo do caso, tirado do relato e da própria história do Sr. McDonald.
Carlos McDonald nasceu em Dublim em 12 de agosto de 1905. Teve boa saúde na infância. Seus irmãos e irmãs também eram fortes. Aos dezesseis anos deixou a escola para trabalhar na carpintaria de seu pai. Gostava de esportes e era ótimo atleta. Casou-se com dezenove anos e tem agora três filhas, todas com boa saúde.
Sua doença principiou em 1924. Tornou-se cansado e irritado e teve de abandonar o trabalho por várias semanas. Retornou ao trabalho em novembro mas continuou perdendo peso. Começou a ter então suores à noite e sua tosse piorou tanto que ele consultou o Dr. Young de Sandymount em Dublim. Achou-se o bacilo da tuberculose em seu esputo e os raios X mostraram tuberculose adiantada em seus pulmões.
McDonald foi enviado a um sanatório, onde ficou cinco semanas. Entrou então em um hospital em Dublim (abril de 1925). Lá teve duas hemorragias dos pulmões. Perdeu treze quilos em seis meses.
No dia 3 de julho de 1925, desobedecendo as ordens médicas, embarcou para Joanesburgo na África do Sul onde residiu seis meses. Sua tosse passou, ele ganhou peso e forças. Arranjou emprego em uma mina de ouro, contudo, trabalhando sempre na superfície. Durante cinco anos sua saúde permaneceu boa. No começo de 1931, depois de uma vigorosa partida de futebol, sentiu dor nos quadris e pescoço. Logo depois a dor começou no lado esquerdo e na parte inferior das costas, especialmente quando andava de motocicleta. E a situação piorou tanto que ele não podia brecar a motocicleta sem sentir uma aguda dor na parte inferior das costas. Em abril de 1931 seu médico, depois de examinar sua espinha nos raios X, constatou tuberculose na décima segunda vértebra torácica.
McDonald foi posto num colete de aço que o envolvia dos ombros aos quadris, mas se abria para que pudesse tomar banho de sol.
Depois de três meses não apresentou melhora. O médico sugeriu uma operação de enxerto no osso. McDonald negou-se a fazê-la e voltou para Dublim. Na viagem abandonou o colete por achá-lo muito quente e cansativo. De volta ao lar, tentou trabalhar, mas as dores no lado esquerdo e nas costas eram tão fortes que ele teve de parar. Durante três meses descansou. Entrementes não teve nenhum cuidado médico.
Em junho de 1932, foi examinado pelo Dr. Lane de Dublim que diagnosticou tuberculose na vértebra e o enviou ao Dr. Lynch para verificar se o estado de seus pulmões permitiria uma operação. O Dr. Lynch disse que não; os pulmões estavam ruins. Mais uma vez o jovem foi posto no colete de aço.
Em setembro de 1932, um grande abcesso surgiu na região lombar direita e outro, mais tarde, no ombro esquerdo. O abcesso do ombro foi aspirado, mas o da região lombar teve de ser aberto, porque o pus era muito grosso. Ambos os abcessos lançaram pus livremente durante a primavera de 1933.
Em junho de 1935, McDonald piorou. Desmaiou durante um violento acesso de vômito. Uma semana mais tarde seu corpo estava muito inchado. Consultou ainda outro médico, Dr. O'Connell de Dublim, que diagnosticou nefrite aguda (inflamação dos rins). Foi levado para o Hospital Meath onde ficou durante treze semanas, outra vez sob os cuidados do Dr. Lane e também do Dr. Boxwell. O exame da urina revelou albumina, células sanguineas, corpos granulosos e hialinos. Qualquer movimento provocava terrível dor principalmente nas costas, e, com frequência, tinha que lhe dar sedativos.
Em novembro de 1936, o Dr. Boxwell disse que o paciente deveria ser enviado a um hospital de casos irremediáveis. O alegre nome desta instituição era "Hospital para os Agonizantes". McDonald não aceitou e voltou para sua casa. Chamou novamente o Dr. O'Connell. O médico visitou-o semanalmente por três meses. A família vivia de uma pequena loja de fumo que a Senhora McDonald instalou numa parte da casa.
O médico asseverou à Senhora McDonald que muito pouco poderia fazer por seu marido, e que o considerava um caso perdido. Finalmente em junho de 1936, disse a seu paciente: McDonald, sinto muito - não posso fazer mais nada por você.
Foi então que McDonad pensou em Lourdes. Tinha um forte pressentimento de que seria curado lá. Afirmava constantemente aos amigos que, se fosse a Lourdes, voltaria andando. Insistiu com sua mulher que pusesse na mala um terno e roupas nas quais deveria voltar como uma pessoa sã.
Ele foi com a Peregrinação de Jovens Católicos da Irlanda que se realizou de 4 a 10 de setembro de 1936. A viagem teve que ser feita numa padiola. Permaneci inválido por mais de quatro anos, diz McDonald, e durante quinze meses antes de vir para Lourdes tive que fica de cama. Duas vezes recebi a extrema-unção e foi-me dito por mais de um médico que para o meu caso não havia recurso. Era incapaz de sentar-me por mais de quatro minutos para que me trocassem os curativos. A dor quase me levou à loucura algumas vezes. Quando a ambulância veio a fim de levar-me para o trem, fui colocado em um lençol e com o máximo cuidado levado da cama para a padiola e desta à ambulância.
Para o ingresso na Peregrinação ele tinha um certificado do Dr. O'Connell atestando que estava com a doença de Pott na décima segunda vértebra dorsal, nefrite, arttrite tuberculosa no ombro esquerdo. Algumas quinze chapas de raios X do Hospital Meath estabeleciam o diagnóstico. O Dr. Hannigan era encarregado da peregrinação que incluía doze médicos.
McDonald deixou Dublim rumo a Lourdes na noite de 3 de setembro de 1936. Suas feridas foram pensadas em 4 de setembro pela enfermeira Falvey no trem de peregrinação. Ela constatou que havia muito pus supurando das chagas em suas costas e ombro.
Chegou a Lourdes em um sábado, 5 de setembro, e suas feridas foram pensadas aquele dia pelo Dr. Hannigan. Neste curativo o médico notou que McDonald tinha duas grandes chagas (expelindo pus) na região lombar, uma grande chaga embaixo na parte externa da clavícula e outrs duas no ombro esquerdo.
Na manhã de 6 de setembro, foi levado para os banhos e cuidadosamente descido nas águas do tanque por seis padioleiros, deitado numa rede apropriada para este fim.
Os curativos foram retirados e quando ele saiu, outros foram feitos. Deste modo as águas de Lourdes tocaram diretamente suas feridas e a lavaram. Ele estava completamente gelado por causa do banho e não se sentia melhor.
No dia 7 de setembro foi banhado outra vez. Sentia-se atordoado e gelado mas depois que foi vestido e levado da piscina à Gruta onde havia uma cerimônia religiosa, afirmou que começou a sentir "os primeiros indícios de saúde".
- Deve-se lembrar, diz o Dr, Blanton, que durante quinze meses o paciente esteve de cama, tão fraco que tinha que usar a comadre, incapaz de mover os quadris ou ombros sem grande dor. Mas agora, numa padiola em frente à Gruta, ele experimentava mover um pouco o braço. Não havia dor. Soltou as correias de seu colete de aço e levantou os ombros do travesseiro, sem dor. Pensou que talvez não sentisse dor porque o choque do banho lhe tinha desviado a mente da dor. Esperou uma hora e moveu quadris outra vez. Novamente nenhuma dor.
- Minhas esperanças concretizaram-se, disse McDonald jubilante. A Santíssima Virgem curou-me. Acrescentou que na Gruta sentiu-se tão bem como nunca em sua vida. Sabia que podia levantar-se e andar. Os padioleiros e enfermeiras impediram.
Passou todo aquele dia ao ar livre em frente à Gruta. De volta ao hospital à tarde disse ao médico que se levantaria na manhã seguinte. Foi-lhe proibido.
Na manhã seguinte (8 de setembro), quando o médico e enfermeira saíram do quarto, McDonald levantou-se e andou até ao pé da cama, a primeira vez que ficava em pé após quinze meses. Afirmou: - Meus joelhos cederiam e eu cairia no chão se não me tivesse segurado à cama. Vestiu-se sem auxílio de ninguém e andou sem dor.
Aquele dia foi levado à Gruta, mas não como anteriormente em uma padiola mas numa cadeira de inválido. - Fiquei na cadeira até terminada a bênção dos doentes à tarde. Deixei então a cadeira... e subi as escadas e entrei na Igreja do Rosário onde fui capaz de fazer uma completa genuflexão e saí da igreja para a Praça onde sentei em minha cadeira para a fotografia oficial dos peregrinos.
Este era o homem que por mais de um ano esteve impossibilitado de fazer o menor movimento sem sentir dores atrozes, ou levantar sua cabeça ou sentar-se por mais do que quatro minutos de uma vez.
- Aquela noite, diz McDonald, disse ao médico que ele podia desmontar minha padiola e colocá-la no vagão de bagagem, porque eu viajaria para o lar como passageiro comum. Na quarta-feira cedo vesti-me sem qualquer auxílio e fui levado para os banhos pela terceira vez, entrei, despi-me e vesti-me sem qualquer ajutório. Isto eu não fazia há mais de três anos.
Deixei Lourdes numa quarta-feira à noite. Nossa viagem de regresso foi muito alegre. Chegando à estaçãode Dublim tive o máximo prazer em dispensar a ambulância que me fora tão necessária uma semana antes. Chamei um táxi, cumprindo assim minha promessa de voltar andando.
Quando McDonald deixou Lourdes, sua cura não era ainda completa, segundo o relatório do Dr. Vallet, suas feridas não estavam completamente fechadas e expeliam pus. Nessas condições ele não foi levado para a Corporação para exame. Foi no trem em que regressava, antes de chegar a Paris, que suas feridas desapareceram. O Dr. Hannigan relatou assim:
Eu certifico, como médico encarregado dos doentes da Peregrinação Irlandesa, que examinei o Sr. Carlos McDonald. Seu estado era o seguinte: Três fístulas na região lombar, todas expelindo pus. Durante as viagens a Lourdes de ida e volta, eu pessoalmente fiz-lhe os curativos. Pouco antes de desaparecerem as feridas saía ainda muito pus e o paciente tinha que ficar em sua maca.
Depois do segundo banho houve grande melhora e eu autorizei-o a tentar andar, o que ele conseguiu com facilidade. Na viagem de volta seus curativos foram feitos por enfermeiras em Paris. Apenas uns humores saíam de uma de suas fístulas lombares. Tudo o mais estava curado.
O Dr. Hannigan escreveu outra vez em 29 de agosto de 1937:
Vi o Sr. McDonald duas vezes depois de seu retorno de Lourdes. Posso agora declarar definitivamente que não há mais vestígios de sua antiga moléstia. O Sr. Carlos McDonald está um homem normal, ativo, saudável, que pode trabalhar o dia inteiro sem perigo e sem fadiga excessiva. (Ele agora se dedica a negócios de seguro). Todas suas antigas fístulas sararam completamente. Estou satisfeito por poder pessoalmente atestar essa cura, pois quando o vi pela primeira vez achei que era um caso sem esperanças. (Assinado, Ch Hannigan).
Do Dr. Young, 49 Tritonville Road, Sandymount, Dublim, veio este certificado:
Certifico que em 1934 examinei o Sr. McDonald e o achei sofrendo de lesão tuberculosa do ombro esquerdo e um abcesso lombar. Recentemente examinei o Sr. McDonald e não achei mais sinais de sua doença e considero-o completamente curado.
Do Dr. C. J. O'Connell, 35 Fairview, Strand, Dublim.
Certifico que no dia primeiro de setembro de 1937 examinei o Sr. Carlos McDonald e achei os abcessos, dois na região lombar e três perto dos ombros, completamente curados. A urina não contém sangue ou albumina. Na minha primeira visita em 1934 este paciente estava sofrendo de nefrite aguda e tuberculose adiantada na vértebra dorsal. Foi enviado para o Hospital Meath onde teve o tratamento do Dr. Lane e ficou treze semanas, deixando o hospital por vontade própria. Visistando-o no dia seguinte em sua própria casa, a urina continha albumina e pus. Fiz o certificado para a Peregrinação e considerei o caso desse homem incurável.
O diagnóstico feito pelo Dr. O'Connell no certificado de Peregrinação é o seguinte: Mal de Pott, cárie, nefrite, omoplata tuberculosa.
O relatório de raios X feito em 9 de setembro de 1937 pelo Dr. R. A. Ruyert do Hospital Santo Kevin, em Dublim, é o seguinte:
A junta do ombro esquerdo mostra claramente sinais de antiga lesão na junta entre o úmero e omoplata que teve progresso acentuado. O mal não existe mais, a cura resultou por anquilose. O rim esquerdo apresenta foco de doença agora completamente cicatrizada. Um exame por injeção de uroselectan mostra no que concerne aos rinas que o rim esquerdo está hipertrofiado, a pelve dilatada e sua conformação mudada. Este rim está entretanto funcionando normalmente. O rim direito está um pouco dilatado mas trabalha normalmente. Ambos pulmões apresentam lesões tuberculosas, agora curadas. A pleura está um pouco inchada na parte superior esquerda. É dificil dizer se a doença está curada mas o certo é que está inativa. (Assinado, Dr. Ruyert).
Logo que McDonald retornou a Dublim começou a andar meia milha por dia. Após duas semanas conseguiu andar várias milhas. Em dezembro (1936) começou a andar de bicicleta. No dia 16 de setembro de 1937 voltou a Lourdes, onde o Dr. Blanton e outros médicos o examinaram no dia 17 de setembro.
Trinta e dois médicos estavam presentes na Corporação durante o exame de McDonald. Suas conclusões finais estão neste relatório:
Carlos McDonald sofria de: 1) tuberculose no ombro esquerdo com três fístulas; 2) tuberculose na espinha dorsal com duas fístulas; 3) nefrite crônica caracterizada pela presença de pus, sangue, albumina. Estes três males estavam muito adiantados por ocasião de sua peregrinação à Lourdes, as cinco fístulas expelindo pus.
Foram abruptamente cortados em sua evolução em 7 de setembro. Uma cura imediata depois de uma banho na piscina foi seguida pela cicratização definitiva das cinco fístulas em menos de quatro dias e do retorno da normal secreção urinária livre dos germes infecciosos, cessação da dor, retorno de movimentos parciais do braço esquerdo e região lombar.
Esta cura obtida sem uso de medicamentos ou qualquer agente terapêutico está confirmada por um ano de excelente saúde e trabalho... Nenhuma explicação médica, nas condições atuais dessas afecções tuberculosas, julgadas incuráveis pelos especialistas chamados para tratá-lo, e cujo começo se deu com infecção geral, depois com localizações ósseas. Esta cura é considerada inexplicável pelas leis biológicas.
As assinaturas de trinta e dois médicos terminam este relatório.
Na sua exposição para seus colegas americanos o Dr. Blanton concluiu:
Resumindo, temos um homem que evidentemente estava atacado de tuberculose nos pulmões. Tinha também uma infecção na décima segunda vértebra torácica que a destruiu, e uma infecção do ombro que quase inutilizou a estrutura óssea da junta. De cama quinze meses, precisava ter suas feridas medicadas duas vezes por dia. Em seguida ao segundo banho na piscina conseguiu mover-se sem dor, chegou mesmo a andar nesse dia e dentro de três semanas podia andar várias milhas por dia; suas chagas foram curadas praticamente em duas semanas.
Qual a explicação desta cura? - Porque esta é uma cura da qual eu mesmo tive de me convencer. Os relatórios reafirmam esta conclusão e eles foram feitos por médicos insignes. Além disso, este não é um caso isolado mas um dos dez ou doze aproximadamente que ocorrem por ano em Lourdes, dos quais os relatórios parecem perfeitos e honestos.
Devemos por de lado como infundadas as acusações de que esses casos são fingidos ou histórias de charlatões. Parece haver neste santuário uma grande aceleração no processo de cura, desaparecimento de sintomas e sensação de saúde. A percentagem dessas curas é muito grande para ser considerada como coincidência, nem os detalhes das curas estão de acordo com os processos de convalecença com que estamos acostumados. Mesmo os curados de doenças de sintomas coincidentes em nossos hospitais não se levantam e andam sem dor no espaço de dois ou três dias, após quinze meses de cama com dores contínuas.
A razão das curas parece estar em algum aspecto relacionado com a psicologia. É minha opinião que neste caso e em casos semelhantes em Lourdes há uma aceleração no processo de cura, devida à emoção motivada pelo traspasse para a toda poderosa, querida Virgem Maria...
Sinto que estamos justificados, com o que vimos em Lourdes, afirmando nossa crença experimental que casos destinados à morte não somente foram suspensos mas retrocederam e a libido deste modo liberta favoreceu o indivíduo na restauração da saúde. Acredito que algo acontece e que é, como o Dr. Vallet afirmou, fora das leis da natureza (*).
________________
(*) Carlos McDonald goza hoje de ótima saúde, um homem robusto de quarenta e nove anos. Visita Lourdes frequentemente, e esteve lá com sua filha pouco antes de minha peregrinação.



Cranston, Ruth. O Milagre de Lourdes. São Paulo: Melhoramentos, s.d. pp. 69-76

ALGUNS CASOS DE CURAS MILAGROSAS EM LOURDES

Outros casos extraordinários espantaram os médicos durante aqueles primeiros anos de curas em Lourdes. A pequena Ivone Aumaitre, filha de um médico de Nantes, teve seus pés tortos curados com dois anos de idade. Seu pai relatou o caso nos registros da Corporação Médica. Constância Piquet foi curada de câncer no seio, - um caso adiantado que os Drs. Laverne e Morle de Paris consideraram inoperável. A Senhora Pecantet foi curada de cãncer no lábio inferior. Durante dois anos podia alimentar-se só com líquidos através de um tubo. Após lavar-se vários dias nas águas de Lourdes a horrivel ferida desapareceu, e ela ficou completamente normal.
Maria Le Marchand tinha metade de sua face carcomida por uma tuberculose de pele. Quando saiu da piscina só uma comprida cicatriz vermelha restou de seu mal primitivo. O Dr. d'Hombres dá-nos uma perfeita descrição da aparência deste caso antes e depois da cura.
Com estes casos impressionantes não surpreende que o interesse público aumentasse espantosamente, que até médicos radicalmente descrentes ficassem abalados. Um lugar onde esses fatos ocorriam não podia ser mais referido como lugar de charlatães e desequilibrados.
Nos primeiros anos deste século [XX] realizaram-se curas espetaculares como as da Senhora Biré, Gargam, Adélia Cofette (outro caso grave de acidente), Maria Borel, Henriqueta Hauton, Maria Bailly, sobre a qual Carrel escreveu, e muitos outros.
As curas foram examinadas com crescente interesse pelos médicos da França e de outros países.
Em 1930 um médico inglês escreveu: - "A atitude de toda classe médica para com Lourdes tem mudado consideravemente nos últimos anos. A mudança foi do ceticismo e incredulidade para o reconhecimento, não necessariamente do sobrenatural, mas que as curas de Lourdes não podem ser explicadas pelas leis biológicas conhecidas".
Em dezembro de 1931, na mesma universidade onde, pelo Professor Pitrès, Lourdes tinha sido ultrajada, foi realizado um Congresso da Sociedade Médica e Cirúrgica de Bordéus para um sério e respeitoso estudo das curas de Lourdes.
O Dr. Pedro Mauriac, irmão do famoso acadêmico e decano da Faculdade de Medicina de Bordéus, narrou a história de um grave caso de reumatismo deformante, que estava piorando cada vez mais já havia três anos e que foi milagrosamente curado após uma peregrinação a Lourdes.
Nesse mesmo congresso o Professor Portman relatou a cura dum câncer na maxila superior. O Professor Duverguey, a de uma úlcera varicosa; o Dr. Moulinier, a repentina melhora de uma menina tuberculosa, a cura ainda confirmada após passarem nove anos. O Dr. Goudon expôs o caso de uma enfermeira que caiu de um elevador no terceiro andar, sofrendo contusões, fratura da bacia e ambas as pernas. Os ossos fraturados não queriam aderir e aparentemente a morte não demoraria a ocorrer. A paciente foi para Lourdes apesar das objeções de seu médico. No quarto dia lá, cessou toda dor, dois dias depois ela já podia ficar em pé. Voltou para o trabalho e estava trabalhando em ótimo estado físico vários anos após o acidente.
Tudo isto pode parecer um conto de fadas médico, mas que se narrem contos de fadas numa organização tão notável e respeitada como a Sociedade de Medicina e Cirurgia de Bordéus - os fatos foram publicados também na "Gazeta Quinzenal de Ciência Médica de Bordéus" - parece pouco provável.
A verdade é que quarenta anos de conscienciosos trabalhos pelos médicos da Corporação Médica foram coroados de êxitos. Em 1927 foi fundada a "Associação Médica Internacional de Lourdes", uma organização científica para o estudo das curas de Lourdes, cujo número de membros aumentou rapidamente, incluindo médicos de muitos países. Grande correspondência foi-se desenvolvendo, vindo cartas dos pontos mais longínquos do globo, pedindo esclarecimentos. O presidente da Corporação Médica foi convidado a fazer conferências na Irlanda, Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Suiça, Itália, Argélia, Marrocos, Egito e se não fosse a guerra se estenderia pela América do Sul e Antilhas.
Do Japão chegaram pedidos de uma relação de curas de Lourdes, para ser examinada por médico conspícuo daquele país, que queria conhecer o assunto antes de fazer uma visita a Lourdes. Houve peregrinações a Lourdes provenientes do Ceilão, Dakar, Estados Unidos, Trinidad, Dinamarca, Lituânia e muitos outros países.
Em 1950 o Dr. Vallet, retirando-se do cargo de Presidente da Corporação Médica, foi feito oficial da "Legião de Honra".
Apesar de tudo isto, até hoje, ainda há hostilidade e oposição. É preciso ter coragem (asseveraram-me diversos médicos americanos) para trazer à baila o assunto de Lourdes, em qualquer jantar ou reunião médica. Encontram-se olhares de piedade, surpresa ou manifesta impaciência em alguns círculos.
Mas, conforme escreveu o Dr. Marchand: "O período de desprezo sistemático já passou. Muitos médicos visitaram Lourdes, chegando lá, absolutamente descrentes e irreconciliáveis adversários do milagroso. Mas partiram convencidos pelas provas que tiveram, e não envergonhados de afirmar que presenciaram fatos que lhes era impossível explicar."
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Cranston, Ruth. O Milagre de Lourdes. São Paulo: Melhoramentos, s.d. pp. 29-31.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

SENHORA MARIE BIRÉ - milagre reconhecido n. 37

Uma cura de cegueira é sempre emocionante. A Senhora Biré, de Luçon, trabalhadora no campo, mãe de seis crianças, levantou-se uma manhã não para a luz, mas para a total escuridão.
Durante muito tempo vinha tendo violenta dor de cabeça, hemorragias do estômago e tonturas esquisitas. Ela sabia que se encontrava gravemente enferma. Mas nunca lhe tinha passado pela mente isso: Cegueira!
O médico procurou confortá-la em seu desespero. Talvez fosse apenas temporárias. Este casos davam-se de vem em quando, eram conhecidos por "cegueira nervosa". "O delicado mecanismo do olho sensível a distúrbios internos, tensões, etc."
Após o exame a voz do médico tornou-se grave, pausada. - Lamento dizer-lhe, mas os nervos óticos estão completamente arruinados de ambos os lados. Sinto informá-la de que para esses casos não há melhora, nem cura.
Em suas anotações o Dr. Hibert afirmava: "Reflexos luminosos completamente destruídos. Cegueira proveniente de dupla atrofia papilar".
As papilas são discos óticos nas extreminadades dos nervosóticos, normalmente, uma rede de fortes fibras finas, de bonita cor vermelho-alaranjada. No caso da Senhora Biré elas estavam cinzento-esbranquiçadas e gastas, restanto um mero fio.
Seu médico afirmou-lhe que o próprio mecanismo da visão estava destruído.
Como você se sentiria? Como é que qualquer um se sentiria? Pessoa que vivia de seu trabalho, com crianças, com dificuldades monetárias, além de tudo cegueira.
A Senhora Biré piorou rapidamente. O distúrbio emocional trouxe-lhe mais fortes hemorragias. Estava impedida de ingerir alimentos, vômitos contínuos e desnutrição acarretaram-lhe uma fraqueza perigosa. Esta situação perdurou por seis meses. Sua família e o Dr. Hibert estavam profundamente preocupados.
Finalmente ela decidiu acompanhar os peregrinos de Vendéia para Lourdes. Seu médico e sua filha mais velha acompanharam-na.
No trem, durante a noite, teve longas crises de desfalecimentos e chegou a Lourdes em estado grave.
De manhã levaram-na para os banhos, mas a multidão era tão grande que ela teve de voltar para a Gruta, onde ficou por algum tempo, em seu carrinho de doente, orando com os outros enfermos.
A missa terminou às 10:15 e a Hóstia Sagrada foi levada de volta para a Igreja do Rosário. Quando o padre passava por perto, a Senhora Biré inesperadamente levantou-se e disse numa voz quase inaudível. - Ah! Vejo a Virgem Santíssima. E caiu de novo no carrinho, desmaiando. Um pequeno filete de sangue saiu-lhe dos lábios. Sua filha pensou que estivesse morrendo.
Mas a Senhora Biré recuperou os sentidos, viu a imagem da Virgem lá no nicho e disse que a Virgem estava menos branca e reluzente do que da primeira vez, mas podia ver.
Muitas pessoas reuniram-se em torno dela. Foi levada para a Corporação Médica, levando consigo o atestado do Dr. Hibert que certificava sua completa cegueira nos meses anteriores.
Diversos médicos examinaram-na, entre eles o Dr. Lainey, um oculista de Ruão, que deixou o seguinte relatório na Corporação:
O exame dos olhos com o oftalmoscópio mostrou em ambos os lados uma papila branco-opalina, desprovida de cor. As veias e artérias, repuxadas para um lado, estavam finas como um fio. O diagnóstico era claro: atrofia branca do nervo ótico, de causa cerebral. Esta, uma das mais graves infecções, é tida por todas as autoridades médicas como incurável. Mas a Senhora Biré tinha recuperado a vista aquela manhã. Podia ler as menores letras, e enxergava perfeitamente também a distância.
Ela recuperara a vista mas as lesões ficaram, desaparecendo pouco depois.
Dez médicos fizeram um segundo exame no dia seguinte, constatando: o órgão ainda atrofiado e sem vida, a vista clara e perfeita.
Seguiu-se um volumoso e rigoroso interrogatório, com muitas palavras científicas que a paciente não entendia.
- Como é que a senhora pode ver se não tem papilas? um dos médicos perguntou impaciente.
- Peço perdão, a Virgem Santíssima deu-me algumas - replicou a Senhora Biré com espírito. - Ouçam, senhores, eu não estou familiarizada com seus longos e sábios vocábulos. Tenho só uma coisa a dizer, e disse-a com termos quase bíblicos: Quase seis meses eu não vi. Não pidia ver ainda ontem cedo, e agora posso ver. Isto é bastante para mim.
Tinha de ser o suficiente também para os inquiridores. Eles reconheceram que a cura foi completa. O futuro diria se permanente.
Um mês após seu retorno para o lar a Corporação Médica pediu à Senhora Biré para ir a Poitiers onde três especialistas, entre eles o Dr. Rubbrecht, um oculista belga, a examinaram. A Corporação queria saber se ela ainda estava vendo com olhos "mortos". o Dr. Rubbrecht verificou que o fenômeno tinha cessado.
"Todos os traços da atrofia papilar desapareceram", escreveu. "Não há mais nenhuma lesaõ, e a cura é completa."
Desde o momento da cura a Senhora Biré podia alimentar-se normalmente; logo recuperou suas forças. Durante o ano seguinte aumentou seu peso de 23 quilos, podia fazer todo o serviço da casa e sentia-se perfeitamente bem.
Um ano após voltou a Lourdes. O Dr. Lainey examinou-a outra vez. Achaou os olhos normais e a vista perfeita. Anotou: - "A Senhora Biré está gozando ótima saúde." O presidente da Corporação, Dr. Vallet, viu-a vinte anos mais tarde. Sua vista estava ainda excelente. E uma Comissão Canônica, após longas diligências declarou o seu caso como uma das curas milagrosas da Igreja.
O belga Dr. Mariaux, discutindo este caso na sede da Corporação Médica, disse: "A volta instantânea da vista e a recuperação do nervo ótico esclerosado é um fato absolutamente inexplicável sob o ponto de vista clínico." Todos os médicos que estudaram o fenômeno foram unanimemente da mesma opinião.
Em dois desenhos depois fotografados o Dr. Lainey mostrou os olhos da Senhora Biré como estavam quando do primeiro ano em que a examinou e depois no segundo.
Um médico americano, Dr. J. Arthur Reed, de Pasadena, Califórnia, que recentemente operou meus olhos, disse ao ver o relatório e o desenho da Corporação Médica: "Este caso é inexplicável pela ciência. Empenhe-se em publicá-lo. Qualquer oftalmologista se pasmaria diante dessa cura. Casos de atrofia ótica como este na fotografia são destituídos de esperança."





Cranston, Ruth. O Milagre de Lourdes. São Paulo: Melhoramentos. s.d. pp. 26-29.

GABRIEL GARGAM II

Quando o departamento francês de pensões começa a pagar auxílio, e grande auxílio, pode estar certo de que a lesão é genuína. Isto foi o que eles fizeram no caso de Gabriel Gargam, empregado do correio em uma estrada da ferro.
Numa fria tarde de dezembro, o "Expresso Sudoeste de Orléans" desabalava noite adentro entre Bordéus e Angoulême. No carro postal, perto da máquina, os funcionários trabalhavam com presteza e silenciosamente, classificando a correspondência. Gargam trabalhava quieto e ligeiro como os outros. Dentro de poucas horas estaria em casa, chegaria faminto e cansado, esperando pela excelente sopa que sua mãe sempre guardava para ele na grande panela no fogão. Tiraria os sapatos, poria os chinelos, um bom cachimbo, um gole de conhaque, uma olhadela nos jornais, e depois iria para a cama. Assim pensava, separando as cartas, cantarolando uma cançoneta.
De repente, um barulho ensurdecedor. O trem dobrou-se. Madeiras rangendo, lâmpadas quebrando, pessoas gritando, uma ponte caindo no barranco.
Gargam sentiu uma dor lancinante nas costas. - Depois, escuridão.
Quando voltou a si estava num hospital, enfaixado dos pés à cabeça, paralítico da cintura para baixo. Tinha sido esmagado quase mortalmente, sua espinha fora atingida de tal maneira que era inútil qualquer esperança de curá-la. Com o menor movimento vomitava. Tinha que ser alimentado por meio de um tubo, o que lhe causava sofrimentos cruéis. O tubo podia ser inserido apenas uma vez por dia. Sem alimentação, ele foi emagrecendo e enfraquecendo. Feridas com gangrena surgiram de ambos os pés. Seu médico, Dr. Decressac, declarou em sua exposição que a lesão na espinha o levaria à morte.
Os médicos da Estrada de Ferro Orléans e a Repartição Postal fizeram relatórios precisos para o tribunal que julgaria o caso. À vítima foi concedida a vultuosa soma de 6.000 francos de anuidade, o tribunal declarando-o um destroço humano, que necessitaria doravante de pelo menos duas pessoas para cuidar dele dia e noite.
Após vinte meses de hospital estava debilitando-se cada dia que passava.
Já não podia engolir. As feridas dos pés estavam piores, os médicos avisaram a família que sua morte não tardaria.
Gargam era completamente ateu e não ia à igreja há mais de quinze anos. Mas sua mãe era muito religiosa. Por causa de sua insistência ele concordou em fazer uma peregrinação a Lourdes. A jornada, fê-la com muita dificuldade, carregado numa padiola.
Na primeira tarde em Lourdes foi colocado no caminho por onde passava a Procissão do Santíssimo Sacramento. Estava muito fraco, completamente inconsciente, seu aspecto macilento, gélido e azulado. No momento, porém, em que a enfermeira pensou estivesse falecendo, repentinamente abriu os olhos, levantou o corpo apoiando-se nos cotovelos e caiu outra vez, mas fez novo esforço. Desta vez conseguiu ficar em pé. Deu alguns passos atrás do Santíssimo Sacramento, mas estava sem roupas e descalço.
Fizeram-no parar e voltar para sua padiola.
Gargam estava apalermado. Nada que lhe fizessem importava agora. Estava curado. Sua paralisia tinha desaparecido. Ele readquiriu completamente a liberdade de movimentos.
Sua entrada para exame pela Corporação Médica foi dramática. Sessenta médicos, muitos repórteres, crentes e descrentes o envolveram.
Gargam chegou em sua maca, dizem as crônicas, envolto em um roupão. Ficou na nossa frente - um espectro. Os olhos grandes e fixo era as únicas coisas expressivas em seu rosto pálido e sem cor.
A emoção era tão indescritível e o número de curiosos tão grande que tiveram de transferir o exame para o dia seguinte.
Agora Gargam não veio mais em uma maca, estava com um terno novo e andando. As feridas de seus pés, ontem abertas e supurantes, estavam se cicratizando a olhos vistos. Ele andava sem muita dificuldade. Os médicos examinaram-no e fizeram-lhe perguntas durante duas horas.
O exame de raios X mostrou a compressão na vértebra lombar onde a lesão da espinha tinha causado paralisia da parte inferior do corpo. Agora já não mais necessitava do tubo alimentar, comia normalmente.
Em poucos dias seu peso aumentou de 9 quilos, e de quatro polegadas a espessura de sua perna.
Desde o princípio foi de uma paciência extraordinária. Curiosos e repórteres o assediavam. Ele sempre lhes respondeu com calma e nunca mostrou enfado.
A volta de Gargam para o lar foi um acontecimento sensacional. A nova de sua cura espalhou-se por todas as estações da estrada de Orléans.
Ele foi examinado pelo médico do Departamento de Correios, que o mandou voltar ao trabalho.
Este caso teve grande repercussão. Os sessenta médicos que o examinaram em Lourdes foram unânimes: "Esta cura é inexplicável cientificamente".
Podia-se pensar que a direção da Estrada fez esforços para rever a anuidade, mas o que se deu foi o contrário, Gargam é que teve dificuldade em persuadi-los a receber de volta o dinheiro.
Voltou a Lourdes anualmente por muito tempo e trabalhou como maqueiro, servindo-se daqueles mesmos pés que estiveram com gangrena.*
* Ele esteve ali em 1951. Morreu em 1952, com a indade avanaçada de oitenta e três anos.
Cranston, Ruth. O Milagre de Lourdes. São Paulo: Melhoramentos. s.d. pp. 24-26

quarta-feira, 12 de maio de 2010

JOAQUINA DEHANT - milagre reconhecido n. 9



Também nos primeiros dias deu-se a sensacional cura de Joaquina Dehant. Ela tinha vinte e nove anos e sofreu durante doze anos de uma horrível úlcera na sua perna direita.
Joaquina veio de Gesves na Bélgica. O Dr. Marique e o Dr. Froidebise que a tratavam lá, forneceram detalhes preciosos em seus certificados descrevendo seu estado quando partiu para Lourdes.
Afirmavam que se encontrava em sua perna direita uma úlcera de doze polegadas de comprimento e seis de largura, até o osso. Durante esses anos os músculos da perna tinham sido destruídos em parte, tinha também osteonecrose. A ferida deitava constantemente pus malcheiroso. O pé, faltando-lhe qualquer apoio, estava torto, a junta dos joelhos estava petrificada. [...] No trem, o odor da ferida causou náuseas a todos.
Mas Joaquina estava tão certa de que seria curada em Lourdes, que levou um par de calçados para quando voltasse. Chegando a Lourdes foi levada para a Gruta e sua perna foi banhada na água do tanque por meia hora. De nada valeu. Sem perder as esperanças, voltou horas mais tarde, e mergulhou a perna outra meia hora. Foi tomada por uma dor alucinante, mas depois uma sensação de descanso e o desaparecimento de todo sofrimento. A ferida estava completamente curada, recoberta pela pele, restanto apenas uma cicatriz.
A Srta. Dorval que acompanhou Joaquina aos banhos, o Abade Devos que dela cuidou no trem, e muitos romeiros que a tinham evitado, todos verificaram sua rápida e radical mudança.
A perna direita retomou sua forma reta e normal, servindo na sua antiga função.
Quando Joaquina desceu em Gesves em sua viagem de regresso, usava seus calaçados e andava tão bem como qualquer um. Ela já fez quarenta e cinco peregrinações de agradecimento a Lourdes desde sua cura, sempre com a melhor das disposições.
A Igreja inclui Joaquina Dehant como umas de suas cinquenta e uma [à época da publicação do livro, em meados dos anos 1950] curas miraculosas comprovadas.


Fonte: Cranston, Ruth. O milagre de Lourdes. trad. Ricardo Azzi.
São Paulo, Ed. Melhoramentos, s.d., pp. 23-24